Mudanças climáticas em zonas
costeiras e oceânicas: estudo de caso
do Atlântico Sul
Carolina da Silveira Bueno
1
and Eduardo Cargnin Ferreira
1
Estrabão
Vol(3): 220222
©The Author(s) 2021
DOI: 10.53455/re.v2i.60
Resumo
A presença de espécies dominantes pode afetar a biodiversidade de zonas costeiras e oceânicas alterando
o ecossistema local. Esse parece ser o caso da plântula de Dalbergia Ecastophyllum (L.) que vem apresentando
crescimento acelerado na região da zona costeira e oceânica da APA da Baleia Franca, em Santa Catarina, no
atlântico sul do Brasil. Florações de espécies são eventos naturais que ocorrem em zonas costeiras e oceânicas,
no entando, quando se tornam espécies dominantes podem estar associadas com a presença de fatores externos
relacionado à mudança climática. Ao mesmo tempo, alterações na disponibilidade de fitoplâncton no oceano pode
indicar perturbação ecossistêmica no Atlântico Sul. Neste trabalho pretende-se investigar a relação sistêmica de
pertubação ecossistêmica entre zonas costeiras e oceanica diante de mudanças de temperatura heterogêneas
(IPCC, 2021). Essa relação é considerada como fundamental para entender a correlação entre diferentes níveis de
temperatura e os impactos no ecossistema costeiro e oceânico do Atlântico Sul, área onde as baleias se reproduzem.
Os dados são coletados de base de dados especializadas para estimar biomassa oceânica na região do Atlântico
Sul, crescimento da planta Dalbergia Ecastophyllum no perímetro da APA da Baleia Franca e variáveis ambientais
(morfologia local) e climáticas relacionadas a temperatura, para o período de 1970 a 2020. A compreensão integrada
dos ecossistemas costeiros e oceânicos é de grande relevância para subsidiar políticas diante da emergência e
heterogeneidade das mudanças climáticas.
Palavras-chave
Mudança climática, zonas costeiras e oceânicas, Altântico Sul, Baleia Franca.
Introduction
Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvi-
mento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro, em 1992,
menciona-se de forma muito proeminente que a destruição
dos ecossistemamas costeiros estão associados principal-
mente com o aquecimento global que têm afetado severa-
mente a morfologia das zonas costeiras em todo o mundo.
Sobre os impactos do aquecimento global sobre a biodiver-
sidade dos ecossistemas costeiros e marinhos, estudos apon-
tam para uma possível alteração na distribuição geográfica
das espécies, com mudanças nos padrões de interação entre
elas, com comprometimento da disponibilidade de nutrientes
vitais tanto para os ecossistemas costeiros, de águas super-
ficiais e águas profundas e interferência nos processos
ecológicos responsáveis pela manutenção das populações de
espécies nos diferentes níveis tróficos (Faria, Marcondes,
Jardim, & Maso, 2012). No caso brasileiro, essa situação não
é diferente. Um exemplo é a mudança na biodiversidade local
que vem sendo observada na zona costeira e oceânica da APA
da Baleia Franca, em Santa Catarina, cuja área de proteção
ambiental abrange cerca de 300 kilometros quadrados e
abriga uma diversidade de espécies vegetais e animais. Essa
mudança vem sendo causada pela espécie Dalbergia Ecasto-
phyllum (L.) que vem se alastrando em torno dessa zona de
proteção, tornando-a uma espécie dominante. O problema é
que não se sabe quais são os impactos que isso pode causar
na biodiversidade local da zona costeira e oceânica da APA
da Baleia Franca. Especialmente no oceano do Atlântico Sul,
região rica em produção primária e local de reprodução das
baleias Francas.
A hipótese é que o crescimento da espécie Dalbergia
Ecastophyllum (L.) da zona costeira e oceânica da APA
da Baleia Franca, tornando-a uma espécie dominante, é
um indicador de alteração ecossistêmica regional a partir
dos impactos das alterações climáticas, ao mesmo tempo,
alterações na disponibilidade de biomassa no Atlântico Sul
estão ocorrendo, inserindo a zona costeira e a oceânica
como sistemas complexos que interagem de forma sistêmica.
O objetivo é entender a relação temporal entre morfologia
local, mudança climática e o crescimento da espécie
Dalbergia Ecastophyllum (L.) da zona costeira e oceânica
e mudanças na quantidade de biomassa disponível no
Atlântico Sul. Para tanto, o trabalho pretende i) avaliar
o nível de crescimento em diferentes níveis de profundidades
de aparecimento de plântulas de Dalbergia ecastophyllum
em condições locais durante os últimos 20 anos; ii) avaliar a
1 Universidade Estadual de Campinas, Insituto Federal de Santa
Corresponding author:
Carolina da Silveira Bueno, Universidade Estadual de Campinas,
Insituto Federal de Santa; Eduardo Cargnin Ferreira, Universidade
Estadual de Campinas, Insituto Federal de Santa
Email: carolinnasilveira@yahoo.com.br,
eduardo.cargnin.ferreira@gmail.com
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morfologia local a partir da construção de cenário teórico da
região costeira e oceânica do Atlântico Sul, especificamente
a região que cobre a área da APA da Baleia Franca,
considerando dois períodos de tempo, sendo 1970-2000 e
2001-2020; iii) avaliar a variabilidade climática da região
costeira e oceânica do Atlântico Sul considerando o período
de 1970 a 2020; iv) estimar a biomassa (clorofila superficial)
na área do Atlantico Sul ao longo das três últimas décadas.
Zonas Costeiras e Oceânicas e o clima no
planeta
A sustentabilidade é um novo marco civilizatório, uma
meta urgente de transição coletiva, uma vez que é
necessário lidar com o contexto das mudanças climáticas.
muita incerteza sobre as novas constituições e novos
compromissos que devem ser levados em consideração, a fim
de enfrentar o desafio de um novo padrão de crescimento
econômico e de desenvolvimento de mercados, a partir
da manutenção de uma perspectiva de sistemas humanos
globais sustentáveis (Urban, 2015; Willis, Bhagwat, &
Shonil, 2009). Nesse cenário, boa parte das agendas
globais, fortemente amparadas a partir do acordo de Paris,
realizado em 2015, entenderam que ações sobre mitigações
e preservação dos ecossistemas devem compor os processos
de desenvolvimento do futuro. Nessas agendas, os oceanos
e suas zonas costeiras são considerados essenciais para
garantir o desenvolvimento sustentável da sociedade. Os
oceanos são tão importantes que seus assuntos compõe a
chamada “década do oceano” pela Organização das Nações
Unidas (período de 2021 a 2030). Isso porque os oceanos
cobrem cerca de 71% da superfície da Terra e contêm
ecossistemas primordiais para garantir a vida no planeta
(CGEE, 2008).
Constituem-se, ainda: “ (...), em fonte muito rica e diver-
sificada de recursos vivos e não vivos, fornecendo direta
e indiretamente proteínas para a alimentação humana e
ampla gama de minerais. Além disso, exercem papel pre-
ponderante no equilíbrio climático do planeta, transportando
calor das regiões equatoriais para as temperadas por meio
dos movimentos das massas de água, afetando diretamente
o clima da Terra” (CGEE, 2008 p. 37).
Na mesma importância que os oceanos estão suas zonas
costeiras. No caso brasileiro, de acordo o art. 2º, parágrafo
único da Lei n 7.661, de 16 de maio de 1988, zona costeira
é “o espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra,
incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma
faixa marítima e outra terrestre”, que foram definidas pelo
Plano Setorial de Gerenciamento Costeiro (BRASIL, 1988).
A zona costeira representa um dos recursos mais importantes
da humanidade, pois abriga grande parte da população
mundial e biodiversidade. Refere-se a uma zona sensível
que responde de maneira adversa às mudanças naturais
ou de origem antropogênicas, que são aquelas induzidas
pelo homem. As mudanças naturais, como terremotos,
inundações e tempestades, podem resultar em apreciáveis
mudanças na linha de costa. Já algumas dessas mudanças
podem ser globais em extensão, como a mudança climática,
que afetará a zona costeira, produzindo acidificação e
destruição dos sistemas costeiros. As mudanças induzidas
pelo homem, como a construção de portos, a retirada de
sedimentos do perfil praial e as dragagens, podem conduzir a
fenômenos de erosão costeira regional ou local. A construção
de barragens pode afetar o aporte de sedimentos ou
nutrientes, acarretando drásticas mudanças na zona costeira,
atingindo tanto os recursos vivos quanto os recursos não-
vivos (CGEE, 2008).
Materiais e Métodos
Delimitação geográfica
A Área de Proteção da Ambiental da Baleia Franca,
localizada no Atlântico Sul, foi criada através do decreto
de 14 de setembro de 2000. Trata-se de uma unidade
de conservação Federal de ambiente marinho costeiro, de
154.866,27 hectares, localizada no litoral centro-sul do
Estado de Santa Catarina. Tem aproximadamente 130 km
de costa, destes, 80% da área é marinha e o restante
é terrestre. Compreende os municípios de Palhoça, Paulo
Lopes, Garopaba, Imbituba, Tubarão, Florianópolis, Laguna,
Jaguaruna, e Balneário Rincão (Fig. 1).
Coleta do dados e amostras
A análise integrada deve incluir o levantamento das
informações morfológicas e de variabilidade climática,
com ênfase especial nos impactos, como o aparecimento
de espécies dominantes, que possibilitam identificar os
principais problemas a serem equacionados para a proteção
das zonas costeiras e oceânicas do país.
Biomassa disponível no Atlântico Sul:
São duas variáveis para estimar a biomassa disponível na
área do Atlântico Sul:
i)
temperatura da superfície do mar e ii) clorofila. Sendo,
a análise de clorofila por satélite, que é um indicador de
biomassa, a partir de dados do INPE, assim como os dados
de temperatura da superfície do mar.
Base de dados: INPE
2)
morfologia local
3)
variabilidade na temperatura
4)
crescimento de plântulas de Dalbergia ecastophyllum
Basicamente, três são os temas a serem destacados para a
metodologia:
i)
Sistematização das informações pré-existentes da mor-
fologia local, em especial aquelas relacionadas à cobertura
sedimentar atual e seus condicionamentos estruturais;
ii)
Mudanças climáticas, o mar assume papel cada vez
mais importante no equilíbrio dos gases de efeito estufa,
sendo ele responsável por cerca de 25% da captura de CO2
da atmosfera, e importante albedo.
iii)
Ocupação e utilização impróprias da Zona Costeira:
poluição por resíduos domésticos e industriais; modificações
da linha de costa: erosão, assoreamento; inadequação de
obras costeiras; aumento da atividade portuária em zonas
sensíveis para os ecossistemas.
Referências
Consultores, C., Hazin, B. M., & H, F. (2008). Cgee. mar e
ambientes costeiros. In Souza & K. G. (Eds.), (p. 323-
323).
Bueno and Ferreira 222
Figure 1. Região da APA da Baleia Franca Atlântico Sul
Faria, C. R., Marcondes, . S., Jardim, T., & Maso, D.
(2012). Retrieved from http://livroaberto
.ibict.br/bitstream/1/585/1/BOLETIM%
20DO%20LEGISLATIVO%20N%c2%ba%2017%
2c%20DE%202012%20rio%2b20.pdf>
Lei n7661, 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional
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