201 Estrabão (2)2021
variáveis atmosféricas indicadoras de probabilidade de
convecção profunda e violenta.
A proposta do presente trabalho visa indicar configurações
do modelo WRF que podem resultar em simulações
mais realistas de eventos severos considerando a área
geográfica do Estado de Santa Catarina. Com isso, haveria
disponibilidade de mais uma ferramenta que pode ajudar
a melhorar os sistemas de alerta de tempo severo e, em
consequência, minorar perdas materiais e de vidas.
Revisão Bibliográfica
A atmosfera terrestre possui um estado e este pode ser
quantificado através de um conjunto de variáveis, dentre elas
a temperatura, a umidade, a pressão e o vento. As mudanças
no estado atual para um estado futuro são governadas por
equações diferenciais parciais da dinâmica de conservação
da massa (hidrodinâmica em particular), termodinâmica
e dos gases (Bauer, Thorpe, & Brunet, 2015). Mas
muitos processos atmosféricos não podem ser diretamente
modelados e representados por variáveis e equações
considerando a falta de resolução e na complexidade desses
processos, o que demandaria muito tempo computacional
para considerar todas as interações (Stensrud, 2007; Warner,
2011).
As equações devem ser resolvidas numericamente e as
discretizações espaciais e temporais não permitem obter
soluções analíticas para todos processos e interações na
atmosfera. Os processos que não podem ser resolvidos
explicitamente são tratados através de esquemas de
parametrização (Bauer et al., 2015). São simplificações
da física e da matemática desses processos que permitem
a execução e a obtenção de resultados em tempo útil.
Atualmente, as parametrizações que são relevantes à
previsão de tempo estão ilustradas na Figura 1, conforme
Bauer, Thorpe e Brunet (2015, p. 48). Há alguns fatores
relacionados às parametrizações e que são importantes na
acuracidade das previsões. O primeiro aspecto é que várias
interagem entre si diretamente e algumas delas possuem
diferentes formulações para diferentes escalas espaciais.
Portanto, estudos de sensibilidade procuram determinar
conjuntos de parametrizações que melhor respondem em
uma área geográfica para determinados fenômenos. Há casos
em que estações do ano também podem impactar no nível de
predição.
O WRF possui um conjunto grande de parametrizações,
geralmente várias para cada processo físico a modelar. Duas
dessas parametrizações vêm sendo investigadas na literatura
(Comin, Justino, Pezzi, de Sousa Gurjão, Shumacher,
Fernández & Sutil, 2021; ) (Efstathiou, Zoumakis, Melas,
Lolis, & Kassomenos, 2013; Moya-Álvarez et al., 2020;
Schwitalla, Branch, & Wulfmeyer, 2020) como importantes
na acurácia da previsão de eventos de chuva intensos. A
primeira e mais importante é a parametrização de microfísica
de nuvens (MP) e ela inclui a resolução explícita do vapor
de água, de nuvens e dos processos de precipitação (todos
os tipos) (Skamarock, 2019; Warner, 2011). Sua escolha
determina não somente a quantidade como também o padrão
de distribuição espacial de precipitação, principalmente nos
modelos regionais (Chawla, Osuri, Mujumdar & Niyogi;
2018).
A camada limite planetária é a porção inferior da
atmosfera de altura de poucos metros a alguns quilômetros
na qual os processos de fluxos de energia são mais intensos.
É a parte da troposfera que é diretamente influenciada
pelo regime de aquecimento solar e resfriamento, estando
intimamente ligada à superfície terrestre. Pela complexidade
dos processos que nela ocorrem, ela também é parametrizada
nos modelos numéricos (Stensrud, 2007). A parametrização
de camada limite planetária (PBL) exerce papel fundamental
na previsão de precipitação (Shin & Hong, 2011).
Alguns autores investigaram a sensibilidade de modelos na
previsão de precipitação considerando somente os diferentes
esquemas de PBL (Moya-Álvarez et al., 2020).
As parametrizações de MP e de PBL foram avaliadas
no WRF para simular eventos intensos de precipitação em
localidade ao norte da Grécia (Efstathiou et al., 2013).
Foram testados dois esquemas de PBL (MYJ e YSU) e
três esquemas de microfísica (Purdue Lin, WSM6 e ETA),
totalizando seis experimentos. Foram definidos três domínios
aninhados, tendo o externo cobrindo boa parte da Europa e
norte da África (27 km), enquanto os outros dois domínios
cobriam áreas da Grécia (9 km) e a de maior resolução (3
km), o norte do país. Os diferentes esquemas de PBL e
MP tiveram diferenças quanto à distribuição e intensidade
da precipitação, mas as precipitações mais intensas foram
melhor simuladas pela parametrização MP ETA e PBL YSU.
Os autores C Chawla, Osuri, Mujumdar, and Niyogi
(2018) investigaram o WRF quanto à simulação de eventos
de chuva extrema na bacia do rio Ganga. Foram feitos
experimentos com quatro tipos de parametrizações de
microfísica, duas de cumulus, duas de PBL e duas opções
de superfície, além de diferentes resoluções de grade.
Os resultados apontaram para o seguinte conjunto de
parametrizações: MYJ (PBL), BMJ (cumulus) e Goddard
(MP). Outros achados: identificaram a influência do
parâmetro de (PBL) na modulação da magnitude da
precipitação enquanto o padrão de distribuição dela sendo
impactada pelo fator MP. Um outro aspecto relevante foram
os melhores resultados para o conjunto de duas grades de 27
e 9 km, quando comparado com os domínios de 27 e 3 km.
Apesar deste último trabalhar com grade de resolução maior,
os processos de interação (downscaling) possuem melhores
respostas nas proporções de grade menores, como foi o caso
do primeiro conjunto, de 3 para 1 (27:9 km).
A convecção sobre a península Arábica foi estudada por
Schwitalla, Branch e Wulfmeyer (2020) através do modelo
WRF. As parametrizações testadas foram a PBL e a MP
e o objetivo era verificar qual conjunto reporta melhores
resultados de potencial de desenvolvimento convectivo
intenso. A consequência é a possibilidade de eventos
intensos de precipitação e ventos fortes. Os melhores
resultados foram obtidos pelos esquemas MYNN (PBL) e
Thompson (MP).
Tendo como região de interesse a região geográfica
das montanhas do Peru, Moya-Álvarez, Estevan, Kumar,
Rojas, Ticse, Martínez-Castro e Silva (2020) fizeram
experimentos com o modelo WRF mas considerando apenas
a parametrização de camada limite planetária (PBL). Foram
definidas duas grades com resolução espacial de 18 e 6 km.
A orografia acidentada da área é uma questão sensível para
os modelos numéricos e, em última análise, na definição dos