Análise espaço-temporal da evolução da
vulnerabilidade costeira em Itapoá
Santa Catarina: Uma Perspectiva
Hidrogeomorfológica e Climática
Estrabão
Vol (2) 230-233
©The Author(s) 2021
DOI: 10.53455/re.v2i.51
Ariana Pereira Barboza Da Silva
1
and Cassio Suski
1
Resumo
A erosão costeira é um processo de ordem natural, principalmente em praias arenosas. As praias arenosas são
comuns no Brasil e, geralmente a população em sua maioria encontra-se localizada nessa região onde, como
consequência, diversos riscos estão associados a esse processo. O ambiente litorâneo possui muita importância
econômica e ao mesmo tempo é um ambiente complexo em seus processos naturais e extremamente sensíveis. Por
isso, diversos autores buscam por métodos de análise da variação da linha de costa para a obtenção de informações
sobre o avanço, que resulta nos processos erosivos, a fim de identificar a vulnerabilidade costeira. Atualmente a
instalação de contenções e obras como a engorda de praia tem sido comum, principalmente em regiões de extrema
importância econômica. Neste trabalho, a modelagem numérica MOHID será utilizada para obtenção do balanço
hidrodinâmico e sedimentar das praias de Itapoá-SC em junção com análises climáticas a fim de identificar quais
os processos que estão ocasionando déficit no aporte sedimentar da região, o qual está resultando em processos
erosivos de grande intensidade na porção sul das praias.
Palavras-chave
Erosão Costeira, Itapoá-SC, Mudanças Climáticas
Introdução
A erosão costeira é um processo natural da dinâmica
das praias arenosas, que desencadeia diversos problemas
de ordem mundial, pois a maior parte da população
vive na costa, esta que é caracterizada como um risco
costeiro (Griggs, 1996). Todavia, quando a população se
instala na região costeira, o ambiente costeiro sofre a
alteração da sua dinâmica natural, ocasionando diversos
problemas ( ; MUEHE, 2006) (Bird, 1985). Em Santa
Catarina, segundo Muehe (2006) o maior responsável pela
ocorrência da erosão costeira está fortemente ligado a
presença de tempestades, que geralmente estão associadas a
ciclones extratropicais no sul do Brasil. A vulnerabilidade
costeira se apresenta na costa litorânea, pois este ambiente
é altamente sensível devido a sua complexidade em termos
hidrodinâmicos e sedimentológicos. Quando eventos de
alta energia e/ ou pelo avanço do nível relativo do mar,
ou pelos eventos de maré astronômica ou meteorológica
incidem sobre o sistema praial, o qual é extremamente
frágil e encontra-se em constante movimento, gera uma
vulnerabilidade nesse sistema (KLEIN, NICHOLLS, 1999).
As estimativas do Painel Internacional de Mudanças
Climáticas apontam que a elevação do nível do mar poder
chegar a taxas de 0,13 a 0,50 mm/ano até 2100 (IPCC, 2021).
tem sido freado com a construção de contenções, como
por exemplo, molhes, espigões, enrocamentos rochosos,
entre outros. No entanto, essas contenções, além de
modificar o perfil praial, podem ocasionar outros diversos
impactos e, principalmente, não resolver o problema e sim,
piorá-los (Gracia, Rangel-Buitrago, Oakley, & Williams,
2018). O monitoramento de eventos climáticos é realizado
hoje no Litoral de Santa Catarina através do Centro de
Informações de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia
de Santa Catarina (CIRAM/EPAGRI), pelo projeto RIMPEX
- (Rede Integrada de Monitoramento e Previsão de Eventos
Extremos na região Sul), coordenada hoje pela Universidade
Federal de Santa Catarina. Somente com o monitoramento
e mais estudos específicos de cada região, levando em
conta que cada região tem sua geomorfologia e padrões
únicos de circulação, pode-se obter padrões erosionais e
meteorológicos, para definir um plano de contenção com
maior eficiência e menos degradação do perfil praial.
O objetivo deste trabalho é estudar a origem e o avanço
dos processos erosivos que ocorrem no município de Itapoá-
SC ao longo dos últimos 15 anos, através da identificação e
classificação do estado erosional de cada um dos 8 pontos
de praias. Além disso, também identificar os processos
atuais existentes para entender a dinâmica sedimentar, bem
Como consequência desse fenômeno, espera-se que os
processos de erosão costeira sejam intensificados (BRUNN,
1962).
A Erosão Costeira é um problema socioambiental muito
atual, pois a população presente na costa é maior comparada
com outras regiões. Hoje, é problema público que somente
1 Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina
Email: cassio.suski@ifsc.edu.br (Cassio Suski)
Corresponding author:
Ariana Pereira Barboza Da Silva, Instituto Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, Santa Catarina
231 Estrabão (2)2021
como das causas na mudança e/ou déficit sedimentológico
que está resultando na erosão, assim podendo identificar
o comportamento da linha de costa ao longo dos últimos 15
anos. Por fim, associar os resultados obtidos com os eventos
climáticos de grande intensidade para a definição da origem
do avanço da erosão costeira.
Revisão bibliográfica
A Linha de Costa é um ambiente altamente complexo e
sensível, decorrente da dinâmica entre o oceano, o continente
e a atmosfera. Devido a esta dinâmica, o ambiente costeiro
está sempre em processo de mudanças, essas causadas por
processos naturais comuns, resultantes do padrão de ventos,
corrente e ação das ondas. No entanto, as mudanças mais
drásticas estão relacionadas a eventos meteorológicos, como
por exemplo, tempestades, ciclones extratropicais, entre
outros (Muehe, 2011).
As Zonas Costeiras estão entre os ambientes com maior
densidade demográfica no mundo, contendo mais de 60 % da
população situada em regiões com até 60km da costa (Bird,
1985). No Brasil, segundo Martinez et al. (2007), 48,6%
da população vive na zona costeira. Já no estado de Santa
Catarina, segundo Polette, Souza, Mazzer, and Moro (1995),
aproximadamente 68% da população vive na região costeira.
Devido a essa grande parcela da população viver na costa
tem-se como consequência a existência de construções de
casas, de ruas e de acessos a praia. Essas construções, em sua
maioria, não consideram os processos hidrodinâmicos que
revelam o perfil praial na linha de costa, e, como resultado,
tem-se diversos problemas socioambientais relacionados,
principalmente com a ocorrência de eventos climáticos de
grande intensidade. Não somente no Brasil, mas como no
mundo todo a costa litorânea arenosa tem sintomas de
erosão e entre 70% e 80% das costas do mundo sofrem a
retrogradação (recuo), por perda de areia paras as dunas,
para devolução da própria plataforma continental ou para
a corrente de deriva litorânea (Bird, 1985; Pilkey, Neal, &
Bush, 2009).
Em Santa Catarina, os processos erosivos na faixa
litorânea são evidentes e, vários danos são retratados
todos os anos em telejornais. Esses danos são, geralmente
agravados quando associados as marés de sizígia e ciclones
extratropicais ( ; ANGULO et al., 2004) (Rudorff & Bonetti,
2010). A Erosão Costeira é um processo natural e pode ser
entendida como a mudança no perfil praial, resultante na
transgressão na linha de costa (Muehe, 2011). O clima da
região litorânea é diferenciado das demais regiões devido,
principalmente, as diferenças de pressão entre continente
e oceano. Para estudar a Erosão Costeira é de extrema
importância o conhecimento no clima costeiro, porque é
a energia das ondas, a intensidade e a recorrência de
tempestades que gerenciam o processo de erosão pelo
transporte sedimentar (Muehe, 2011; Pilkey et al., 2009).
Segundo Tessler e Goya (2005), o transporte sedimentar
na linha de costa possui duas forçantes principais, o Clima
de Ondas e o Regime de Marés. O clima de ondas é
definido pelo produto de três sistemas atmosféricos: 1. ZCIT
Zona de Convergência Intertropical (Forma a circulação
mais ao Norte do Brasil); 2. ATAS Anticiclone Tropical
do Atlântico Sul (Centro de Alta Pressão que formam os
ventos alísios); 3. APM Anticiclone Polar Migratório
(Centros de Alta Pressão que formam os sistemas frontais).
Na costa sul brasileira, as ondas que atingem a costa são
forçadas pelos ventos alísios e na costa sul brasileira as
ondas também são forçadas pelos ventos alísios, no entanto,
as ondas com maior capacidade de transporte sedimentar
são as associadas aos sistemas frontais, que podem resultar
em ondas de 1 até 4 metros de altura (TESSLER e GOYA,
2005). Já o regime de marés possui seus níveis de Preamar e
da Baixamar, que são condicionantes que modelam a costa.
Na maior parte do litoral sul brasileiro essa mudança de
nível ocorre até 2 metros, caracterizado pelas micromarés
(TESSLER e GOYA, 2005). Segundo Muehe (2011), os
processos erosivos na linha de costa estão mais relacionados
aos eventos climáticos extremos, por isso, o monitoramento
de eventos climáticos é de extrema importância.
O mapeamento sistemático da linha de costa e o seu
monitoramento, representam ferramentas importantes para
o planejamento do gerenciamento costeiro. Este monitora-
mento permite a determinação de áreas de risco do ambiente
praial, para que assim possa traçar faixas de recuo da linha
de costa, na implementação de obras de contenção, como
molhes, espigões, engordas de praia e outros (CROWEL
et al., 1991). Diversas tecnologias foram apresentadas para
análise da variação da linha de costa, como DGPS e Sensores
Laser (LIDAR) (Leatherman, 2003). Diversos autores como
Leathermann (1983 e 2003) obteve avanços no tratamento de
dados e seus respectivos erros, e também com os métodos de
análises que abrange as variações da linha de costa de curto
e longo prazo.
METODOLOGIA
Nesse estudo serão realizadas as seguintes etapas metodológ-
icas: Simulação por meio da modelagem numérica MOHID,
o levantamento de série temporal junto aos bancos de dados,
a caracterização das praias e a identificação do estado ero-
sional pelo índice de vulnerabilidade. As anomalias na série
temporal serão analisadas e, posteriormente, relacionadas
com eventos extremos ocorridos através de referencias doc-
umentais.
Itapoá-Santa Catarina
O trabalho será desenvolvido na cidade de Itapoá que
está localizada na costa norte do estado de Santa Catarina
(SC) com Latitude 26º07’01”S e Longitude 48º36’58”W, na
região Sul do Brasil e possui aproximadamente 30 km de
linha de praia. A população estimada de Itapoá é de 21.177
habitantes para 2020 (IBGE, 2021).
MOHID
Os dados de marés, perfis topográficos, batimétricos,
sedimentológicos e ondas e ventos serão analisados por
meio de modelagem matemática e inseridos no modelo
numérico computacional MOHID que estabelece o perfil
hidrodinâmico e sedimentológico da região implementado
para a costa dos estados do Paraná e Santa Catarina
pelo Centro de Estudos do Mar, no âmbito do projeto
“Sea Observator and operational modelling system fot
the south-eastern Brazilian shelf” (BSO, 2021). Os dados
Silva and Suski 232
utilizados para traçar o perfil através do MOHID
foram realizados e serão fornecidos para este estudo.
O MOHID (Modelo Hidrodinâmico) é um sistema de
modelagem computacional tridimensional composto por
diferentes módulos integrados, o qual foi desenvolvido pelo
Centro de Pesquisa e Tecnologia Marinha e Ambiental
(MARETEC Marine and Environmental Technology
Research Center) do Instituto Superior Técnico (IST) da
Universidade de Lisboa, Portugal. Este sistema permite
simulações do transporte de propriedades constituintes da
água, tais como, salinidade, calor, sedimentos, processos
ecológicos e outros parâmetros de qualidade da água
(MARETEC, 2017). Através deste sistema foram analisados
o balanço sedimentar e hidrodinâmico atual desde 2019.
Série Temporal da Linha de Costa
Os dados dos marégrafos de Itapoá e o de São Francisco
do Sul e Guaratuba serão utilizados para traçar um perfil
de acompanhamento da posição da linha de costa ao longo
dos anos, através do programa excel. Assim como, um
Levantamento Cartográfico a partir da base de dados dos
satélites Landset 7 e 8 (Sensores Aster - NASA) será
realizado, a fim de analisar a série temporal das posições da
linha de costa ao longo dos anos. Outras análises de imagens
de satélite provenientes da NASA, NOAA, INPE, USGS e
outros órgãos poderão ser consultados para encontrar a rie
composta dos 15 anos de estudo.
Índice de Vulnerabilidade Costeira e
Caracterização Perfil Praial
O índice de vulnerabilidade costeira escolhido para a
análise deste trabalho será baseado nos geoindicadores
do estudo de Perinotto, Campos, Bonetti, and Rudorff
(2012), para obtenção do estado erosional de cada praia,
a partir de descrições sobre a presença de enrocamentos,
pavimentações, manguezais e restingas, dentre outros
aspectos gerais. Esta análise será realizada a partir de
visualização em campo e em junção de fotos para
caracterização de cada perfil praial.
Mudanças Climáticas
Os dados climáticos serão obtidos pela empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI)
por meio do Centro de Informações de Recursos Ambientais
e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (CIRAM), o qual
realiza monitoramento de eventos extremos ao longo. Dados
de pressão atmosférica do continente e do oceano foram
obtidos através do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET) e Estação Meteorológica Automática (EMA) de
Itapoá, respectivamente. Posteriormente, os dados foram
tratados e analisados a partir do sistema Minitab.
Simultaneamente, serão realizadas as análises documen-
tais, a fim de encontrar o maior número de informação de
eventos climáticos de alta intensidade e processos erosivos
que ocorreram no passado para comparar aos dados climáti-
cos e aos eventos de erosão costeira que ocorreram e estão
ocorrendo no momento. A variabilidade da linha de costa
será comparada aos possíveis eventos climáticos ocorridos
no mesmo período.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo e monitoramento do avanço da vulnerabilidade
costeira são muito importantes para traçar metas e inter-
venções ideais para cada caso. Os modelos hidrodinâmi-
cos e sedimentológicos através da modelagem numérica,
todavia tem demonstrado estudos completos que possibili-
tam resultados com maior acurácia, bem como, considerar as
mudanças climáticas nesse estudo é inevitável, pois segundo
o relatório IPCC deste ano, o avanço do nível do mar é
algo que já está acontecendo. Espera-se encontrar as origens
dos déficits sedimentares da região, com a finalidade de
incrementar estudos de manejo para a mitigação do problema
para a população.
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