
231 Estrabão (2)2021
como das causas na mudança e/ou déficit sedimentológico
que está resultando na erosão, assim podendo identificar
o comportamento da linha de costa ao longo dos últimos 15
anos. Por fim, associar os resultados obtidos com os eventos
climáticos de grande intensidade para a definição da origem
do avanço da erosão costeira.
Revisão bibliográfica
A Linha de Costa é um ambiente altamente complexo e
sensível, decorrente da dinâmica entre o oceano, o continente
e a atmosfera. Devido a esta dinâmica, o ambiente costeiro
está sempre em processo de mudanças, essas causadas por
processos naturais comuns, resultantes do padrão de ventos,
corrente e ação das ondas. No entanto, as mudanças mais
drásticas estão relacionadas a eventos meteorológicos, como
por exemplo, tempestades, ciclones extratropicais, entre
outros (Muehe, 2011).
As Zonas Costeiras estão entre os ambientes com maior
densidade demográfica no mundo, contendo mais de 60 % da
população situada em regiões com até 60km da costa (Bird,
1985). No Brasil, segundo Martinez et al. (2007), 48,6%
da população vive na zona costeira. Já no estado de Santa
Catarina, segundo Polette, Souza, Mazzer, and Moro (1995),
aproximadamente 68% da população vive na região costeira.
Devido a essa grande parcela da população viver na costa
tem-se como consequência a existência de construções de
casas, de ruas e de acessos a praia. Essas construções, em sua
maioria, não consideram os processos hidrodinâmicos que
revelam o perfil praial na linha de costa, e, como resultado,
tem-se diversos problemas socioambientais relacionados,
principalmente com a ocorrência de eventos climáticos de
grande intensidade. Não somente no Brasil, mas como no
mundo todo a costa litorânea arenosa tem sintomas de
erosão e entre 70% e 80% das costas do mundo sofrem a
retrogradação (recuo), por perda de areia paras as dunas,
para devolução da própria plataforma continental ou para
a corrente de deriva litorânea (Bird, 1985; Pilkey, Neal, &
Bush, 2009).
Em Santa Catarina, os processos erosivos na faixa
litorânea são evidentes e, vários danos são retratados
todos os anos em telejornais. Esses danos são, geralmente
agravados quando associados as marés de sizígia e ciclones
extratropicais ( ; ANGULO et al., 2004) (Rudorff & Bonetti,
2010). A Erosão Costeira é um processo natural e pode ser
entendida como a mudança no perfil praial, resultante na
transgressão na linha de costa (Muehe, 2011). O clima da
região litorânea é diferenciado das demais regiões devido,
principalmente, as diferenças de pressão entre continente
e oceano. Para estudar a Erosão Costeira é de extrema
importância o conhecimento no clima costeiro, porque é
a energia das ondas, a intensidade e a recorrência de
tempestades que gerenciam o processo de erosão pelo
transporte sedimentar (Muehe, 2011; Pilkey et al., 2009).
Segundo Tessler e Goya (2005), o transporte sedimentar
na linha de costa possui duas forçantes principais, o Clima
de Ondas e o Regime de Marés. O clima de ondas é
definido pelo produto de três sistemas atmosféricos: 1. ZCIT
– Zona de Convergência Intertropical (Forma a circulação
mais ao Norte do Brasil); 2. ATAS – Anticiclone Tropical
do Atlântico Sul (Centro de Alta Pressão que formam os
ventos alísios); 3. APM – Anticiclone Polar Migratório
(Centros de Alta Pressão que formam os sistemas frontais).
Na costa sul brasileira, as ondas que atingem a costa são
forçadas pelos ventos alísios e na costa sul brasileira as
ondas também são forçadas pelos ventos alísios, no entanto,
as ondas com maior capacidade de transporte sedimentar
são as associadas aos sistemas frontais, que podem resultar
em ondas de 1 até 4 metros de altura (TESSLER e GOYA,
2005). Já o regime de marés possui seus níveis de Preamar e
da Baixamar, que são condicionantes que modelam a costa.
Na maior parte do litoral sul brasileiro essa mudança de
nível ocorre até 2 metros, caracterizado pelas micromarés
(TESSLER e GOYA, 2005). Segundo Muehe (2011), os
processos erosivos na linha de costa estão mais relacionados
aos eventos climáticos extremos, por isso, o monitoramento
de eventos climáticos é de extrema importância.
O mapeamento sistemático da linha de costa e o seu
monitoramento, representam ferramentas importantes para
o planejamento do gerenciamento costeiro. Este monitora-
mento permite a determinação de áreas de risco do ambiente
praial, para que assim possa traçar faixas de recuo da linha
de costa, na implementação de obras de contenção, como
molhes, espigões, engordas de praia e outros (CROWEL
et al., 1991). Diversas tecnologias foram apresentadas para
análise da variação da linha de costa, como DGPS e Sensores
Laser (LIDAR) (Leatherman, 2003). Diversos autores como
Leathermann (1983 e 2003) obteve avanços no tratamento de
dados e seus respectivos erros, e também com os métodos de
análises que abrange as variações da linha de costa de curto
e longo prazo.
METODOLOGIA
Nesse estudo serão realizadas as seguintes etapas metodológ-
icas: Simulação por meio da modelagem numérica MOHID,
o levantamento de série temporal junto aos bancos de dados,
a caracterização das praias e a identificação do estado ero-
sional pelo índice de vulnerabilidade. As anomalias na série
temporal serão analisadas e, posteriormente, relacionadas
com eventos extremos ocorridos através de referencias doc-
umentais.
Itapoá-Santa Catarina
O trabalho será desenvolvido na cidade de Itapoá que
está localizada na costa norte do estado de Santa Catarina
(SC) com Latitude 26º07’01”S e Longitude 48º36’58”W, na
região Sul do Brasil e possui aproximadamente 30 km de
linha de praia. A população estimada de Itapoá é de 21.177
habitantes para 2020 (IBGE, 2021).
MOHID
Os dados de marés, perfis topográficos, batimétricos,
sedimentológicos e ondas e ventos serão analisados por
meio de modelagem matemática e inseridos no modelo
numérico computacional MOHID que estabelece o perfil
hidrodinâmico e sedimentológico da região implementado
para a costa dos estados do Paraná e Santa Catarina
pelo Centro de Estudos do Mar, no âmbito do projeto
“Sea Observator and operational modelling system fot
the south-eastern Brazilian shelf” (BSO, 2021). Os dados