190 Estrabão (2) 2021
De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica,
atualmente, restam apenas 12,4% da floresta e desses
remanescentes, cerca de 80% estão localizados em áreas
privadas. Os 12,4% de floresta original correspondem a todos
os fragmentos de floresta nativa acima de três hectares.
De acordo com a WWF e seu acompanhamento baseado
em informações dos últimos 36 anos, ou seja, de 1985 a 2020
e em contraste, num cenário geral, o que se tem é que hoje
a Mata Atlântica corresponde a 7% da cobertura original,
segundo o WWF (WWF BRASIL (2021)).
Independente de certa discrepância de números, o fato
é que o bioma requer atenção especial para ações de
acompanhamento, preservação e de recuperação.
Atualmente, os remanescentes florestais são muito
fragmentados, onde temos que: 29% do bioma é coberto
por Formações Florestais (Mata, Savana, Mangue e Restinga
Florestados); 31% do bioma é coberto por Vegetação Nativa
(incluindo Savana, Campos e Várzeas) e 69% do bioma tem
uso antrópico.
Nesse recorte atualizado, há que se considerar que há
aumento significativo das áreas de florestas plantadas, com
aumento de 77,9%, muito em substituição as nativas, que
variou negativamente em 4,3%; aumento de 43% da área
de agricultura, que nos últimos anos se deve ao aumento
de preços das commodities agrícolas, em substituição às
áreas de pastagens que variou em 40,5% negativamente.
É significativo ainda o aumento de outros usos em 8,8%,
que se devem principalmente às áreas de urbanização e
ainda aumento de áreas mistas de mosaicos de agricultura
e pastagem, da ordem de 4,4%.
Esse mesmo recorte temporal (1985 a 2020) e de
ocupação do solo para o estado de SC, evidencia uma
estabilidade de áreas de agricultura, com pequenas variações
ao longo dos anos, com o mesmo perfil de variação para
os mosaicos de agricultura e pastagens, bem como as áreas
de pastagens somente. Mas com evidente crescimento de
florestas plantadas, reflexo de aumento da demanda mundial
por derivados da celulose e vocação regional para essa
produção.
Nessa fotografia, percebe-se evidente aumento de áreas
antropizadas, em detrimento principalmente das áreas
florestais nativas, tanto nacionalmente, como para o âmbito
estadual.
Por outro lado, Santa Catarina é destaque entre os estados,
ocupando o quarto lugar com maior cobertura nativa, em
46% do território, juntamente com o Piauí (89%), Ceará
(67%) e Bahia (48%).
Significa que, se a Mata Atlântica está entre 7 a 20%
da cobertura original, em Santa Catarina a degradação foi
menor, o que não anula o fato de ter significativas áreas
antropizadas. O que preocupa é que há uma constante e
contínua antropização da cobertura original nas últimas
décadas no Estado, apontada no relatório do Projeto
MapBiomas Brasil.
Ainda sobre Santa Catarina, há uma evidente percepção
que nas faixas litorânea e serrana predominam os
remanescentes florestais. Já na faixa oeste predominam as
áreas de agricultura, os mosaicos mistos de agricultura e
pastagens e pontos de predominância de pastagens. Ou seja,
pode-se depreender que o lado oeste antropizou mais que
o restante do estado, ainda que se saiba que nas demais
regiões há sim a presença marcante das atividades agrícolas,
demandando atenção para focos isolados de supressão de
áreas de florestas, nativas ou em estágios diversos de
regeneração.
Um outro dado apontado é que a supressão tem se
mantido nesse período de monitoramento, pois 31,2%
da floresta nativa foi suprimida nesses 36 anos, dos
quais, 27,8% sofreram algum tipo de regeneração, mas
considerada sem qualidade, ou seja, há substituição por
atividades econômicas. Em outras palavras, de 10 milhões
de hectares suprimidos, 9 milhões são exploradas pelo
extrativismo e posteriormente abandonadas ou subocupadas,
mas o restante é para substituição propriamente dita, por
pastagens, agricultura, urbanização ou outras atividades,
o que representa número expressivo e que deve ser
combatido, pois são 30 mil hectares anuais. Há ainda uma
boa parcela dessa área abandonada ou subocupada que vai
passar ao estágio de não persistência, pois em um dado
momento futuro terá alguma forma de ocupação e uso, que
não a regeneração.
A conservação dos escassos remanescentes depende
do engajamento de diferentes setores da sociedade, além de
políticas públicas eficazes (Cunha; Guedes, 2013; Rezende
et al., 2018).
Atualmente Santa Catarina possui, segundo o IMA 187
Unidades de conservação, em nível municipal, estadual,
federal ou particular, sendo 114 não demarcadas e 73 já
demarcadas, essas áreas são fundamentais para conservação
do que sobrou do bioma.
Considerações Finais
É fácil notar a dimensão da perda de espaço natural
e cobertura vegetal no Brasil, tendo sido esse processo
intensificado nos finais do século XX e nos anos do
século atual, embora seja nesse período que sua proteção
legal também começou a ser pensada, demandada e
regulamentada.
A floresta atlântica está posicionada no território
brasileiro, mas não se restringe a ele e originalmente
está dispersa de maneira que a coloca vulnerável desde
o período das invasões portuguesas sobre os territórios dos
nativos brasileiros. Seus limites concentram a maior parte
da população brasileira há centenas de anos e atualmente
comporta mais 150 milhões de indivíduos.
São inúmeras as pressões a que esse bioma foi e é
submetido sendo as principais, a intensificação do processo
de urbanização e a expansão das áreas agrícolas no país. A
primeira salientada nas regiões sudeste e sul e a segunda, nas
posições mais a oeste no limite do bioma em importantes
zonas de ecótonos nas transições com o bioma Cerrado.
Atualmente o bioma conta com aproximadamente
um décimo de seu limite original restando fragmentos
reduzidos e isolados de biomas e ecossistemas associados.
A fragmentação que leva ao grande detrimento da
biodiversidade, apresentando, também, importantes reflexos
sociais e econômicos, que se manifestam dentre outras
maneiras, nos eventos cada vez mais recorrentes de escassez
hídrica.
Nesse ínterim, Santa Catarina aparece como um dos
estados com maior percentual de área preservada seja com