Mata Atlântica: Da formação original à
fragmentação e o atual estado de
conservação em Santa Catarina.
Estrabçao
Vol(2):188–191
©The Author(s) 2021
DOI: 10.53455/re.v2i.45
Carla Jane Weber
1
, Felipe de Castro Horta Hoffmann Martins
1
, Gilberto Neppel
1
, Moisés
Eduardo Garcia Junqueira
1
, Rosilene Pires de Oliveira
1
and Fernanda Witt Cidade
1
Resumo
O Brasil é o país com a maior diversidade de espécies de plantas e animais do planeta. A Mata Atlântica figura como
terceiro maior bioma e como segunda maior floresta tropical do continente americano. Estudos apontam que restam
apenas 12,4% de floresta preservada. A redução das áreas de vegetação nativa desse bioma, em decorrência da
exploração humana, tem elevado as taxas de detrimento de biodiversidade e a diminuição dos recursos genéticos,
tornando a Mata Atlântica o segundo bioma mais ameaçado do planeta. A floresta foi reconhecida como Patrimônio
Nacional pela Constituição Federal brasileira e teve sua proteção legal aprovada, em 2006 com a lei da Mata Atlântica.
Dentre as atividades que mais exercem pressão sobre o bioma destaca-se a expansão urbana, sendo que Santa
Catarina é o quarto Estado que mais desmatou este bioma entre 2019 e 2020. Atualmente o Estado apresenta apenas
46% sua área original e precisa ser restaurada, para proteger as suas espécies e os serviços ambientais, estas ações
precisam ser executadas por todos os setores da sociedade civil.
Palavras-chave
Mata Atlântica, Floresta Ombrófila Densa, Hotspot, Desmatamento
Introdução
O Brasil é considerado o país com a maior diversidade
de espécies de plantas e animais do planeta. Estimativas
demonstram que este território deve abrigar em torno de
13% de todas as espécies do mundo, o que corresponderia
a um total de 1,8 milhões de espécies (Lewinsohn &
Prado, 2005). Nesse cenário, a Mata Atlântica figura como
terceiro maior bioma e como segunda maior floresta tropical
do continente americano, estendendo-se ao longo de 17
estados* brasileiros. Sua abrangência extrapola os limites do
território brasileiro, e conta com área total de 1.309.736 km2
perpassando ainda 3.429 municípios onde residem mais de
145 milhões de pessoas. Estudos apontam que restam apenas
12,4% de floresta preservada (Fundação SOS Mata Atlântica,
2021).
São integrantes do Bioma Mata Atlântica as seguintes
formações florestais: Floresta Ombrófila Densa; Flo-
resta Ombrófila Mista, também denominada de Mata de
Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional
Semidecidual e; Floresta Estacional Decidual, bem como
os manguezais, as vegetações de restingas, os campos de
altitude, os brejos interioranos e os encraves florestais do
Nordeste (Brasil & Ambiente, 2006).
A Mata Atlântica deve sua existência à espécies e for-
mações ecológicas, aos tipos climáticos que variam de
quentes e úmidos a moderadamente frios (mesotérmicos),
assim como à diversidade do relevo que contribui regional-
mente, para as modificações estruturais da mata (Pereira,
2009). É conhecida como uma das regiões com maior riqueza
e endemismo de espécies do planeta bem como, uma das
mais ameaçadas, se tornando um dos hotspots mundiais de
biodiversidade (Mittermeier et al., 2004; ) (Myers, Mitter-
meier, Mittermeier, Fonseca, & Kent, 2000), ou seja, é uma
das áreas prioritárias para conservação. Quando comparada
com a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica apresenta pro-
porcionalmente uma maior diversidade biológica (BRASIL,
2010), reforçando a dimensão de sua importância.
A redução das áreas de vegetação nativa desse bioma
tem levado a alarmantes taxas de perdas de biodiversidade
e a diminuição dos recursos genéticos (Miers et al 2000),
sendo a conservação in situ, a melhor forma de preservar a
biodiversidade e a continuidade dos processos evolutivos.
O estudo a seguir busca de maneira breve e direta,
revisar sobre as principais características da Mata Atlântica
enquanto bioma e sua espacialização, sempre buscando
enfocar seus atributos no estado de Santa Catarina, buscando
vislumbrar seu atual estado de conservação, como se deram
os processos de perda florestal e os atuais mecanismos de
preservação e restauração ambiental.
1 Instituto Federal Catarinense, Araquari, Santa Catarina, Brasil
Emails: carlajaneweber@gmail.com (Carla Jane Weber),
gilbertoneppel@epagri.sc.gov.b (Gilberto Neppel)
Corresponding author:
Felipe de Castro Horta Hoffmann Martins, Instituto Federal
Catarinense, Araquari, Santa Catarina, Brasil
Email: felipehoffmann@gmail.com
1 Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato
Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia,
Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí
188 Estrabão (2) 2021
Metodologia
A elaboração do material se pautou em uma revisão
bibliográfica, tendo para tanto, sido dividido em temas para
fins de busca e redação no estudo como legislação, formação
natural, o processo de degradação e o status atual do bioma.
Esta revisão foi realizada com auxílio de publicações cien-
tíficas como artigos científicos de revistas e livros especial-
izados. Além destes materiais, foram consultados também
endereços eletrônicos de instituições governamentais e não-
governamentais com respaldo científico no assunto.
De posse de uma série de materiais resultantes das
pesquisas realizadas, foram organizadas reuniões para
filtragem, debates e organização dos mesmos, bem como
para definições de pautas e abordagens aos assuntos
mencionados no produto resultante.
Aspectos legais de interesse
Mesmo intensamente citada em artigos e produções
científicas que argumentam acerca da importância de sua
preservação, a Mata Atlântica, cujo reconhecimento como
Patrimônio Nacional se deu pela Constituição Federal
brasileira de 1988 (art. 225) e teve sua proteção legal
aprovada somente 18 anos depois, em 2006 com a validação
da lei de proteção da Mata Atlântica.
No sentido da regulamentação acerca do componente
florestal brasileiro, o Código Florestal, foi criado como
mecanismo de controle, este orienta a forma como a terra
pode ser explorada, estabelecendo onde a vegetação nativa
tem de ser mantida e onde pode haver diferentes tipos de
exploração.
Atualmente é conhecido como o novo Código Florestal,
pois foi atualizado através da Lei 12.651 de 25 de maio de
2012 que “determina normas sobre a proteção da vegetação
nativa em geral, incluindo Áreas de Preservação Permanente
(APP), de Reserva Legal (RL) e de Uso Restrito (UR);
a exploração florestal, o fornecimento de matéria-prima
florestal, o controle da origem dos produtos florestais,
o controle e prevenção dos incêndios florestais, e a previsão
de instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de
seus objetivos
Os dados têm comprovado que Código Florestal é
uma política fundamental, mas insuficiente para promover
o alcance das metas de restauração estabelecidas para a
Mata Atlântica. Esta deve ser complementada por políticas
públicas e instrumentos privados de incentivo à restauração
e uma economia florestal.
A aplicabilidade do Código Florestal na Mata Atlântica
tem sido objeto de intensas discussões técnico-jurídicas,
especialmente perante os órgãos ambientais responsáveis
pela fiscalização e licenciamento de imóveis rurais localiza-
dos nesse bioma.
O bioma Mata Atlântica, por sua vez, é regulamentado
pela Lei nº 11.428/2006 e pelo Decreto Federal
6.660/2008, que dispõem detalhadamente sobre a utilização
e proteção da vegetação nativa. Anteriormente, vigorava um
decreto datado de 1993.
Tal regulamentação possibilitou que os órgãos ambientais,
especialmente no âmbito federal, tenham vindo a promover,
nos últimos anos, diversas operações fiscalizatórias nas
propriedades rurais inseridas no bioma mata atlântica,
lavrando autos de infração em todas as áreas objeto de
supressão vegetal não autorizada após 11 de fevereiro de
1993, impondo a obrigação de recuperação acrescida de
sanções pecuniárias elevadas.
O Parecer nº 0115/2019/DECOR/CGU/AGU, em ligeira
síntese, concluiu que a Lei da Mata Atlântica (Lei
11.428/2006) prevê explicitamente a aplicação do Código
Florestal ao referido bioma, defendendo o entendimento de
que os regramentos especiais disciplinam a ocupação rural
e urbana, de forma a harmonizar o crescimento econômico
com a manutenção do equilíbrio ecológico.
Mata Atlântica e sua ocorrência em Santa
Catarina
Dentre os 17 estados em áreas de ocorrência da Mata
Atlântica, apenas o Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa
Catarina encontram-se totalmente inseridos nos limites do
bioma, nestes locais ainda são encontrados importantes
fragmentos florestais em diferentes estágios de sucessão,
restando, entretanto, poucos remanescentes de floresta
primária (Vibrans et al., 2012 a 2015).
Anteriormente o bioma cobria grandes áreas contínuas,
o que hoje foi reduzido a pequenos fragmentos florestais,
em função principalmente, da exploração descontrolada
dos recursos naturais e da ocupação desordenada do
território. A vegetação remanescente nesse bioma é
extremamente fragmentada quando comparada com sua
dispersão original (Ribeiro, Metzger, Martensen, Ponzoni, &
Hirota, 2009).
Formação Original
A Mata Atlântica figura como segundo domínio em ordem
de dispersão geográfica do Brasil, sendo reconhecida como
um complexo tipo de vegetação cuja feição distribuída
espacialmente na região sul, figura como de importante
endemismo (Marques, Swaine, & Liebsch, 2011)
Sua complexidade deriva principalmente das grandes
variações geográficas ao longo de sua área de ocorrência
associada com variações climáticas, o que causa variações
exclusivas em suas fisionomias (Marques et al., 2011).
Um dos grandes biomas brasileiros e uma das florestas
mais ricas em biodiversidade do planeta, o bioma
originalmente abrangia cerca de 15% do território e hoje
abriga contingente superior a 70% da população brasileira.
Desta forma em função da grande pressão sobre essa
mata, atualmente restam 12,4% de sua vegetação original.
(FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA).
Ainda segundo essa mesma instituição, dentre as
atividades que mais exercem pressão sobre o bioma destaca-
se a expansão urbana descontrolada. Três dos maiores
centros urbanos sul-americanos se encontram sob seu
domínio, que a despeito de todas as demais sabidas
relevâncias, fornece água para 60% da população brasileira.
(FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA)
De acordo com o mapeamento da cobertura vegetal na área
de aplicação da Lei da Mata Atlântica, conforme Lei Federal
no 11.428/2006 e Decreto no 6.660/2008, e conforma
mencionado, o estado catarinense se encontra integralmente
inserido em área do domínio da Mata Atlântica, sendo
Weber et al. 189
observado em seu território as unidades fitogeográficas da
Floresta Ombrófila Densa, também denominada por Floresta
Tropical Pluvial, nas áreas de menor altitude no território
e a Floresta Ombrófila Mista, cuja denominação se
pela associação entre coníferas e folhosas, em zonas com
altitudes superiores a 500 metros (FUNDAÇÃO SOS MATA
ATLÂNTICA; INPE, 2018).
A Floresta Ombrófila Densa compreende zona de alta
incidência de pluviosidade e grande diversidade de florestas
densas relativamente próximas ao mar (Marques et al.,
2011). Já a Floresta Ombrófila Mista, onde se observam as
Araucárias, coníferas nativas do Brasil, se encontram nas
zonas mais altas e frias do estado, sendo a formação florestal
mais sensível às variações climáticas e muito seletiva em
relação à temperatura e umidade. (Fritzsons, Mantovani,
Eduardo, Wrege, & Catarina, 2017)
Processo de Degradação
Os ecossistemas florestais brasileiros vêm sofrendo grande
pressão ao longo dos tempos, sobretudo e com mais
intensidade, no século XIX e XX. Antes deste período
supõe-se que a devastação provocada pelos seres humanos
tinha pouca expressão se comparado ao visto na atualidade
(Carvalho, 2012).
Estudos desenvolvidos com levantamentos e análises
históricas de imagens de satélite demonstram que os
ambientes florestais perderam cerca de 61 milhões de
hectares ou 10% da massa florestal no período entre 1985
a 2017 (Souza et al., 2020).
Sua rica biodiversidade transformou a Mata Atlântica em
um grande alvo de desmatamento e exploração humana,
tornando-a o segundo bioma mais ameaçado do planeta,
segundo a Associação de Preservação do Meio Ambiente e
da Vida (APREMAVI,2021).
Conforme informações do Atlas da Mata Atlântica
entre 2019 e 2020, o desmatamento da Mata Atlântica
se intensificou em dez dos dezessete estados abrangidos
pelo bioma: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará,
Alagoas, Rio Grande do Norte, Goiás, Rio de Janeiro, Mato
Grosso do Sul, São Paulo e Espírito Santo. No total, foram
desflorestados 13.053 hectares (130 quilômetros quadrados)
da Mata Atlântica neste período. (FUNDAÇÃO SOS MATA
ATLÂNTICA; INPE, 2021).
Santa Catarina é o quarto Estado que mais desmatou
a Mata Atlântica entre 2019 e 2020, atingindo cerca de
25% a mais em relação ao ano anterior, perfazendo um
total de 887 hectares, segundo levantamento da Fundação
SOS Mata Atlântica e do Inpe. (FUNDAÇÃO SOS MATA
ATLÂNTICA; INPE, 2021). Estes dados são extraídos
através de levantamento por meio de imagens de satélite
orbitais do sensor OLI/Landsat 8 e por geoprocessamento.
Em alguns casos o desmatamento foi promovido por
fatores naturais, porém na sua maioria é por ação antrópica.
Nota-se que no processo de degradação do bioma as causas
são muitas, como: aumento da urbanização, queimadas,
expansão agropecuária, exploração de recursos naturais,
onde geralmente incluem a necessidade de se explorar as
florestas para fins econômicos.
A problemática do desmatamento tem reflexos em
toda a tríade da sustentabilidade, afetando os pilares
ambientais, sociais e econômicos, algumas podendo ser
irreversíveis. Segundo Henrique Nascimento (2018) as
quatro principais consequências do desmatamento são:
alteração do clima, erosão no solo, degradação de habitat e
perda da biodiversidade.
Ações de recuperação e sustentabilidade na
Mata Atlântica
A Mata Atlântica perdeu cerca de 90% de sua área original e
agora precisa ser restaurada, para proteger as suas espécies
e os serviços ambientais. As iniciativas de restauração
florestal de um ecossistema devem possuir como objetivo
o reestabelecimento não somente da estrutura vegetal, mas
também da ecologia destas comunidades, de uma forma que
facilite a recuperação natural desses ecossistemas ( ; Gomez
et al., 2004) (Engel & Parrota, 2003).
A maior parte dos estudos sobre restauração florestal
da mata atlântica se concentra no sudeste e sul do Brasil,
sendo que, a escolha do melhor método de restauração
está relacionada a aspectos locais da área a ser restaurada,
como características de paisagem, resiliência, processo de
degradação e a fatores econômicos (Oliveira, 2017).
Ações restauradoras devem estar ligadas desde a remoção
de fatores de perturbação e isolamento da área para que a
regeneração natural ocorra de forma passiva (Aide et al.,
2000; Wadt, 2003) ou através da interferência do homem
através de técnicas para acelerar e influenciar a trajetória da
sucessão natural do local ou seja a restauração ativa (Aide et
al., 2000; Wadt, 2003)
Na restauração da mata atlântica a técnica mais
comumente utilizada tem sido o plantio direto de árvores
(Lamb, 2005; Rodrigues, 2011; Oliveira, 2017), mas
recentemente outras técnicas vêm sendo incorporadas, como
a semeadura direta e as técnicas nuleadoreas (instalação
de poleiros, transposição de galharia e serrapilheira, chuva
de sementes e transposição de plântulas) (Reis,2009), além
dos sistemas agroflorestais, em menor escala, assim como a
condução da regeneração natural.
A condução da regeneração natural tem se mostrado
promissora, e com baixo custo em ambientes em que existe
relativa resiliência, e é uma técnica aceita pela legislação
vigente (BRASIL, 2012).
A floresta nativa que foi dirimida pelo homem ao passar
dos anos, precisa agora ser recuperada, para proteger a vida
no nosso planeta, a fragmentação dos habitats é a maior
causa do desaparecimento de biomas e deve ser amplamente
combatido, sendo a restauração florestal um importante
mecanismo para conservação e ampliação da Mata Atlântica.
Status Atual
O retrato mais atualizado sobre o bioma é obtido
por uma iniciativa de rede colaborativa entre ONG’s,
universidades e empresas de tecnologia, que contam com
vários especialistas nos biomas, no uso das terras, no
sensoriamento remoto, ciência da computação, inteligência
artificial, processamento em nuvem e em classificadores
automatizados, desenvolvidos e operados a partir da
plataforma Google Earth Engine, gerando uma série histórica
de mapas. Essa iniciativa pertence ao MapBiomas Brasil
(mapbiomas.org).
190 Estrabão (2) 2021
De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica,
atualmente, restam apenas 12,4% da floresta e desses
remanescentes, cerca de 80% estão localizados em áreas
privadas. Os 12,4% de floresta original correspondem a todos
os fragmentos de floresta nativa acima de três hectares.
De acordo com a WWF e seu acompanhamento baseado
em informações dos últimos 36 anos, ou seja, de 1985 a 2020
e em contraste, num cenário geral, o que se tem é que hoje
a Mata Atlântica corresponde a 7% da cobertura original,
segundo o WWF (WWF BRASIL (2021)).
Independente de certa discrepância de números, o fato
é que o bioma requer atenção especial para ações de
acompanhamento, preservação e de recuperação.
Atualmente, os remanescentes florestais são muito
fragmentados, onde temos que: 29% do bioma é coberto
por Formações Florestais (Mata, Savana, Mangue e Restinga
Florestados); 31% do bioma é coberto por Vegetação Nativa
(incluindo Savana, Campos e Várzeas) e 69% do bioma tem
uso antrópico.
Nesse recorte atualizado, há que se considerar que
aumento significativo das áreas de florestas plantadas, com
aumento de 77,9%, muito em substituição as nativas, que
variou negativamente em 4,3%; aumento de 43% da área
de agricultura, que nos últimos anos se deve ao aumento
de preços das commodities agrícolas, em substituição às
áreas de pastagens que variou em 40,5% negativamente.
É significativo ainda o aumento de outros usos em 8,8%,
que se devem principalmente às áreas de urbanização e
ainda aumento de áreas mistas de mosaicos de agricultura
e pastagem, da ordem de 4,4%.
Esse mesmo recorte temporal (1985 a 2020) e de
ocupação do solo para o estado de SC, evidencia uma
estabilidade de áreas de agricultura, com pequenas variações
ao longo dos anos, com o mesmo perfil de variação para
os mosaicos de agricultura e pastagens, bem como as áreas
de pastagens somente. Mas com evidente crescimento de
florestas plantadas, reflexo de aumento da demanda mundial
por derivados da celulose e vocação regional para essa
produção.
Nessa fotografia, percebe-se evidente aumento de áreas
antropizadas, em detrimento principalmente das áreas
florestais nativas, tanto nacionalmente, como para o âmbito
estadual.
Por outro lado, Santa Catarina é destaque entre os estados,
ocupando o quarto lugar com maior cobertura nativa, em
46% do território, juntamente com o Piauí (89%), Ceará
(67%) e Bahia (48%).
Significa que, se a Mata Atlântica está entre 7 a 20%
da cobertura original, em Santa Catarina a degradação foi
menor, o que não anula o fato de ter significativas áreas
antropizadas. O que preocupa é que há uma constante e
contínua antropização da cobertura original nas últimas
décadas no Estado, apontada no relatório do Projeto
MapBiomas Brasil.
Ainda sobre Santa Catarina, há uma evidente percepção
que nas faixas litorânea e serrana predominam os
remanescentes florestais. Já na faixa oeste predominam as
áreas de agricultura, os mosaicos mistos de agricultura e
pastagens e pontos de predominância de pastagens. Ou seja,
pode-se depreender que o lado oeste antropizou mais que
o restante do estado, ainda que se saiba que nas demais
regiões há sim a presença marcante das atividades agrícolas,
demandando atenção para focos isolados de supressão de
áreas de florestas, nativas ou em estágios diversos de
regeneração.
Um outro dado apontado é que a supressão tem se
mantido nesse período de monitoramento, pois 31,2%
da floresta nativa foi suprimida nesses 36 anos, dos
quais, 27,8% sofreram algum tipo de regeneração, mas
considerada sem qualidade, ou seja, há substituição por
atividades econômicas. Em outras palavras, de 10 milhões
de hectares suprimidos, 9 milhões são exploradas pelo
extrativismo e posteriormente abandonadas ou subocupadas,
mas o restante é para substituição propriamente dita, por
pastagens, agricultura, urbanização ou outras atividades,
o que representa número expressivo e que deve ser
combatido, pois são 30 mil hectares anuais. Há ainda uma
boa parcela dessa área abandonada ou subocupada que vai
passar ao estágio de não persistência, pois em um dado
momento futuro terá alguma forma de ocupação e uso, que
não a regeneração.
A conservação dos escassos remanescentes depende
do engajamento de diferentes setores da sociedade, além de
políticas públicas eficazes (Cunha; Guedes, 2013; Rezende
et al., 2018).
Atualmente Santa Catarina possui, segundo o IMA 187
Unidades de conservação, em nível municipal, estadual,
federal ou particular, sendo 114 não demarcadas e 73 já
demarcadas, essas áreas são fundamentais para conservação
do que sobrou do bioma.
Considerações Finais
É fácil notar a dimensão da perda de espaço natural
e cobertura vegetal no Brasil, tendo sido esse processo
intensificado nos finais do século XX e nos anos do
século atual, embora seja nesse período que sua proteção
legal também começou a ser pensada, demandada e
regulamentada.
A floresta atlântica está posicionada no território
brasileiro, mas não se restringe a ele e originalmente
está dispersa de maneira que a coloca vulnerável desde
o período das invasões portuguesas sobre os territórios dos
nativos brasileiros. Seus limites concentram a maior parte
da população brasileira há centenas de anos e atualmente
comporta mais 150 milhões de indivíduos.
São inúmeras as pressões a que esse bioma foi e é
submetido sendo as principais, a intensificação do processo
de urbanização e a expansão das áreas agrícolas no país. A
primeira salientada nas regiões sudeste e sul e a segunda, nas
posições mais a oeste no limite do bioma em importantes
zonas de ecótonos nas transições com o bioma Cerrado.
Atualmente o bioma conta com aproximadamente
um décimo de seu limite original restando fragmentos
reduzidos e isolados de biomas e ecossistemas associados.
A fragmentação que leva ao grande detrimento da
biodiversidade, apresentando, também, importantes reflexos
sociais e econômicos, que se manifestam dentre outras
maneiras, nos eventos cada vez mais recorrentes de escassez
hídrica.
Nesse ínterim, Santa Catarina aparece como um dos
estados com maior percentual de área preservada seja com
Weber et al. 191
feições de Floresta Ombrófila Densa ou Floresta Ombrófila
Mista, mesmo assim ficou evidente a intensificação da perda
de floresta nativa em patamares preocupantes apresentadas
nos relatórios recentes do Projeto MapBiomas Brasil.
O recorte apontado para este território destaca que a
parcela oeste catarinense deve priorizar ações de regeneração
ambiental, enquanto a porção leste deve priorizar a
preservação, mas ambos devem ter atenção para frear a
degradação de novas glebas.
Os riscos e perdas decorrentes da degradação do bioma
são imensuráveis. Existem mecanismos legais de proteção,
mas estes são insuficientes sem uma massiva atuação no
sentido não somente da proteção, mas além e sobretudo
da recuperação de áreas. As ações precisam ser abraçadas
por todos os setores da sociedade civil, incluindo empresas
e organizações não governamentais, e sendo coordenada e
liderada pelos poderes públicos das três esferas, partindo da
esfera Federal.
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