Rosa e Alves 150
a)
Investigar as ocorrências de acidentes com embarcações de pesca comercial a partir do registro de
Inquéritos Administrativos sobre Acidentes e Fatos da Navegação da Marinha do Brasil;
b)
Avaliar a distribuição espacial e temporal dos acidentes com embarcações de pesca no litoral do
Brasil, considerado a tipologia e a gravidade das ocorrências;
c)
Comparar a ocorrência dos acidentes envolvendo embarcações de pesca com o registro de eventos
meteoceanográficos adversos à navegação;
d)
Determinar os períodos do ano e as áreas do litoral do Brasil menos favoráveis à segurança da
navegação.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
De acordo com a Organização Internacional para Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture
Organization - FAO) os padrões de segurança a bordo de embarcações de pesca recebem menos atenção
durante o trabalho realizado em circunstâncias perigosas e estressantes, como por exemplo, jornadas
laborais noturnas ou sob condições meteorológicas adversas (FAO, 2020).
Wang et al. (2021) avaliaram os fatores que influenciam a gravidade dos acidentes marítimos em todo
o mundo, e indicam a necessidade de uma atenção especial para o potencial de risco para embarcações
de pesca, operando em condições meteorológicas adversas e distante dos portos.
Nos Estados Unidos e no Canadá, estudos de D. Jin (2014), e Rezaee, Pelot, Ghasemi (2016),
respectivamente, demonstraram que grande parte dos acidentes ocorridos com embarcações de pesca
comercial estão associados às condições meteoceanográficas adversas.
Sistemas meteorológicos influenciam na precipitação e na ocorrência de nevoeiros, prejudicando
a visibilidade na navegação e acarretando em risco de colisão ou abalroamento. Ventos fortes
influenciam na altura significativa das ondas, tornando as condições do mar muito perigosas para
a navegação (Guedes, Soares, Bitner-Gregersen, & Antão, 2001) e consequentemente, em risco de
naufrágio (JIN, KITE-POWELL, TALLEY, 2001).
Na costa brasileira, incidentes de naufrágio foram influenciados pela velocidade do vento e altura de
ondas, principalmente nas regiões Sudeste e Sul, com maior ocorrência entre os meses de março e agosto
(FUENTES, BITENCOURT E FUENTES, 2013), possivelmente estariam relacionados com sistemas
meteorológicos, como frentes frias e ciclones extratropicais.
Além dos fatores de risco relacionados ao meio ambiente, Rezaee, Pelot e Ghasemi (2016)
sugerem que os acidentes na atividade de pesca estão associados com seus aspectos intrínsecos, como as
características físicas das embarcações, a experiência dos pescadores e o ordenamento pesqueiro.
Apesar da grande incidência de acidentes fatais associados com a atividade de pesca em todo
o mundo, as informações existentes são insuficientes e não apresentam equivalência entre os países para
efeitos de estudos e comparações (PEREZ-LABAJOS et al., 2006).
No Brasil, os trabalhos acadêmicos que tratam do tema ainda são escassos. De acordo com Luz
(2017), embora existam legislações voltadas à segurança da navegação, a carência de estudos estatísticos
envolvendo as características das embarcações e os acidentes ocorridos motivam pesquisas nesta área.
A análise dos registros históricos dos acidentes com embarcações de pesca representa uma importante
ferramenta de gestão para avaliar a performance de segurança na atividade (JIN e THUNBERG, 2005).