Focos de calor, queimadas e
problemas respiratórios na
cidade de Campo Grande
(MS) no período de 2014-
2020
Estrabão
Vol(3):75–90
©The Author(s) 2022
DOI: 10.53455/re.v3i.26
Bianca Garcia Oliveira
1
and Vicentina Socorro da Anunciação
2
Abstract
A utilização do fogo para a realização de queimadas é uma prática cultural e frequente,
proporcionando consequências deletérias, tanto no meio ambiente quanto na saúde humana,
desencadeando influências na variabilidade climática, perda de biodiversidade, afugentamento de
fauna, problemas respiratórios, dentre outros. A produção do espaço urbano da cidade de Campo
Grande-MS e a sua expansão territorial fez dela palco de grandes transformações ao longo do
tempo que têm gerado alterações ambientais com repercussão na vida da população, tais como as
queimadas. Nesse sentido, este estudo traz reflexão sobre os dados de focos de calor, queimadas,
clima e doenças do aparelho respiratório na cidade de Campo Grande-MS, a partir da comparação
entre as variáveis relacionadas. Os dados de doenças do aparelho respiratório foram obtidos no
Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (DATASUS/SUS) sobre os casos
notificados e confirmados; Os dados de precipitação foram concatenadas do Banco de Dados
INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) disponível no Banco de dados do CEMTEC(Centro de
Monitoramento do tempo e do clima de Mato Grosso do Sul), as informações relacionadas aos focos
de calor foram levantadas no BDQueimadas (Banco de dados de queimadas) do INPE (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais). Os resultados apontam que muitas estratégias de ações têm
transcorrido para reverter às ocorrências, porém numa perspectiva paliativa, assim, problemas
pontuais continuam ocorrendo, sendo necessárias medidas mais incisivas.
Keywords
Focos de calor, variáveis climáticas., doenças, urbanização
76
Estrab
ã
o(3)2022
Introdução
A queimada é uma prática recorrente que apresenta impacto tanto no ambiente quanto na saúde humana,
sendo que o aumento da incidência desse fenômeno potencializa o agravamento das adversidades. Assim,
pesquisas acerca das queimadas são importantes ferramentas para análise, reflexão e discussão sobre a
temática. Nesse sentido, a ciência geográfica torna-se imprescindível para a discussão da problemática
uma vez que envolve o espaço e as interações estabelecidas.
No Brasil a queimada vem associada à ação antrópica, sendo caracterizada como uma prática cultural
recorrente, utilizada com intuito de renovação de pastagens, limpeza de terrenos como também pode
vir associada ao desmatamento (HORN, M. 2017p.15). Deste modo, é importante destacar os conceitos
de focos de calor, queimadas e incêndio, conforme Gontijo, G. et al. (2011,p.7966) focos de calor são
“pontos geográficos captados por sensores espaciais na superfície do solo, quando detectado temperatura
acima de 47 ºC e área mínima de 900 m2”; e segundo Lopes, L. et al. (2018,p.118) “as queimadas
possuem origem antrópica e os incêndios podem ocorrer de forma natural ou antrópica”.
Nesse sentido, segundo informações do BDQueimadas (Banco de Dados de queimadas) do
INPE(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) no ano de 2019 foram detectados 197.632 focos de calor
no Brasil em comparação a 2020 que totalizou 222.797 focos de calor detectados de todos os satélites
(INPE, 2019-2020a).
No estado de Mato Grosso do Sul em 2019 foram 11.653 focos em comparação a 2020 que totalizou
o quantitativo de 12.080 focos (INPE, 2019-2020b). O município de Campo Grande apresentou 913
focos em 2019 e 1.547 em 2020 e as informações utilizadas foram de todos os satélites (INPE, 2019-
2020c).Vale ressaltar que desses índices o quantitativo de 420 focos, conforme tabela 1 transcorreram na
área urbana se observa um aumento significativo da incidência de focos de calor e consequente impacto
negativo no ambiente e na saúde.
De acordo com Pinto Junior, S.; Silva, C. (2012,p. 2) às queimadas em Mato Grosso do Sul na maioria
dos casos são de origem antrópica estando atreladas à "expansão agropecuária” e “os fatores climáticos,
somados aos geográficos, ou seja, as características de cada região, os sistemas de circulação atmosférica,
a distribuição das chuvas, as estações secas” caracterizando a distribuição do fenômeno. Nesse sentido,
destaca-se que o aumento da incidência de queimadas oriunda da ação antrópica principalmente em
regiões e condições climáticas favoráveis à propagação do fogo potencializa o aumento dos impactos
ambientais.
Segundo Morello,T. et al. (2020,p.1) as queimadas e incêndios florestais são as principais causas
associadas à poluição atmosférica e aumento no número de atendimentos por problemas respiratórios
1Programa de Pós Graduação em Geografia, campus de Aquidauana, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
2Programa de Pós Graduação em Geografia, Campus Aquidauana, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
Email: vanunciacaoufms@gmail.com (Vicentina Socorro da Anunciação)
Corresponding author:
Bianca Garcia Oliveira, Programa de Pós Graduação em Geografia, campus de Aquidauana, Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul
Email: bianca.garcia@ufms.br
Oliveira and Anunciação
77
(...), principalmente no período de tempo seco. Porém, conforme Morello,T. et al. (2020,p.1) no ano de
2020 dois fatores contribuíram para o agravamento da situação, tais como: o desmatamento e a Covid-19.
Assim, observa-se que as queimadas associadas a outros fatores podem contribuir com o agravamento
dos problemas respiratórios.
Deste modo, as queimadas representam um risco à saúde humana, pois a emissão de material
particulado potencializa o agravo de problemas respiratórios, tais como asma, rinite, sinusite, dentre
outros. Referindo-se ao contexto da cidade de Campo Grande é possível inferir que as queimadas
influenciam na qualidade de vida da população e do ambiente uma vez que a fumaça emitida pela queima
emite material particulado na atmosfera influenciando na qualidade do ar, potencializando o agravo de
doenças do aparelho respiratório.
Nesse sentido a Geografia enquanto ciência que estuda o espaço e suas interações com o espaço,
torna-se imprescindível nas pesquisas acerca das queimadas. Assim sendo, inerente a geografia da
saúde estabelece a relação entre a distribuição espacial das doenças com esses outros aspectos,
associado as geotecnologias podem contribuir com as análises e pesquisas sobre as questões ambientais,
principalmente relacionadas às queimadas, o desmatamento e o surgimento de doenças. Pois, através das
ferramentas, imagens de satélite, softwares, sensoriamento remoto, viabiliza realizar o monitoramento
dos fenômenos espaciais bem como visualização e análise através de mapas digitais. E propor ações de
intervenções na perspectiva de estancar a ocorrência.
A presente pesquisa tenciona analisar a relação existente entre as queimadas e as doenças do sistema
respiratórios na cidade de Campo Grande-MS, a partir da comparação entre casos de internações, dados
de focos de calor e variáveis climáticas. Assim partindo da seguinte questão norteadora: As queimadas
urbanas contribuem para o aumento da incidência correspondente às doenças respiratórias em Campo
Grande-MS? Assim, tecer reflexões sobre as ocorrências dos focos de calor e seus reflexos no uso de
infra estrutura e equipamentos dos serviços de saúde, considerando a importância da investigação na
correlação dos possíveis processos de alteração na saúde humana.
Metodologia
A área de pesquisa corresponde a cidade de Campo Grande-MS (figura 1) que de acordo com a
Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano) encontra-se dividida em sete
regiões urbanas: Anhanduizinho, Bandeira, Centro, Lagoa, Imbirussu, Prosa e Segredo (PLANURB,
2020 p.100).
Para o desenvolvimento da presente pesquisa foi realizado revisão bibliográfica referentes à geografia
da saúde, urbanização, clima e queimadas e levantamento dos casos notificados referentes a doenças
respiratórias no Datasus, no período de 2014-2020. Nesse sentido, estabelecer relação entre os casos
de doenças respiratórias, materializados no espaço urbano, ocorrência de focos de calor e variáveis
climáticas.
Posteriormente procedeu o download de focos de calor de todos os satélites no período de 2014-2020
no BDQueimadas/INPE, as informações foram espacializadas no software Qgis para a configuração do
sistema de coordenadas dos focos para Datum SIRGAS 2000, UTM 21S e realizado o recorte espacial dos
focos para a área urbana por meio da sobreposição do shapefile da cidade de Campo Grande e observação
dos locais com maior incidência. A partir disso foram realizadas visitas às áreas mais vulneráveis
mapeando averiguando as condições da saúde e do ambiente. Todas as informações, foram sistematizadas
78
Estrabã
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Figure 1. Localização da cidade de Campo Grande-MS
O elenco de informações foi confrontado com os casos de doença buscando enfatizar a influência
causada pela ação antrópica, a partir do processo de urbanização em conjunto com o elemento climático,
precipitação, focos de calor e casos de doenças que acometem o aparelho respiratório.
Fundamentação Teórica
A utilização do fogo para a realização de queimadas é uma prática antiga e cultural que devido ao baixo
custo e ação rápida é utilizada de maneira recorrente, tanto para a renovação de pastagens como para
limpeza de terrenos com vegetação alta. Porém, essa prática tem impacto direto no ambiente e saúde
dos seres vivos, principalmente através da emissão de gases poluentes e agravamento de problemas
respiratórios.
No Brasil a queimada é uma problemática constante, haja vista o quantitativo de focos de calor e
área queimada anualmente e as pesquisas científicas acerca dessa temática. Segundo dados do Inpe
Oliveira and Anunciação
79
(2019-2020a) no período de julho a novembro de 2019 foram detectados um total de 164.761 focos
em comparação aos demais meses que totalizaram 32.871 focos; no mesmo período no ano de 2020
o total de focos detectados foi de 190.758, em comparação aos demais meses que somaram juntos 32.039
focos.
Assim, é possível observar que os meses mais críticos em relação à incidência de queimadas foram de
julho a novembro e aumento da incidência em 2020.No estado de Mato Grosso do Sul os anos de 2019
e 2020, totalizaram respectivamente 11.653 e 12.080 focos de calor, em comparação ao ano de 2018 que
totalizou 2380 focos (INPE, 2019-2020b).
De acordo com Fernandes, T.; Hacon, S.; Novaes, J. (2021,p.145) no período entre 2010-2018
foram realizadas muitas pesquisas científicas sobre as queimadas e os efeitos das emissões de material
particulado na atmosfera que ocasionam em alterações climáticas, poluição do ar e impacto negativo na
saúde humana em decorrência de problemas respiratórios.
Em vista disso, Ribeiro, H.; Pesqueiro, C. (2010, p.263), Silva, A. et al. (2013,p.346), Araújo, F.;
Miziara, F. (2014,p.113), Gonçalves, K.; Castro, H.;Hacon, S. (2014,p.1524) apontam os seguintes
impactos das queimadas: a poluição do ar decorrente da emissão de material particulado na atmosfera e
consequente surgimento de problemas respiratórios, além de efeitos na saúde humana, também impacto
no ecossistema devido a associação entre desmatamento e queimadas
Dentre as principais causas das queimadas está a ação antrópica e o aumento da incidência de focos
de calor detectados por satélite que ocorre especialmente no período de estiagem, haja visto que as
características climáticas favorecem a propagação do fogo (LEÃO, R.; FERREIRA, G.; STRAUCH, J.
2020 p. 180).
Segundo dados do Inpe (2019-2020 c) o município de Campo Grande-MS totalizou 2.460 focos de
calor entre 2019-2020, sendo 913 em 2019 e 1.547 em 2020.
Diante deste contexto cabe enfatizar a importância da ciência geográfica para a análise dos fatos.
Enquanto ciência que estuda a sociedade e interações com o meio, principalmente na vertente da
geografia da saúde possibilita o estudo da distribuição espacial das doenças relacionando com os fatores
ambientais, sociais, culturais, econômicos e políticos. Associando a cartografia e as geotecnologias
potencializa análises das pesquisas geográficas, pois dispõem de ferramentas tais como: os mapas, as
imagens de satélite, softwares como Qgis, dentre outros, capazes de auxiliar a investigação de diferentes
fenômenos espaciais. Nesse sentido, destaca-se a utilização das geotecnologias na detecção e sondagem
da distribuição espacial de queimadas, focos de calor nesse estudo apresentado.
Resultados e Discussão
A queimada é uma prática que impacta diretamente o ambiente e a saúde humana, tendo em vista que
ocorre a emissão de material particulado na atmosfera, consequente poluição do ar e agravo de doenças
do aparelho respiratório. Além disso, a ação antrópica tem contribuído para o aumento de ocorrências
de queimadas, principalmente em períodos secos propícios à propagação do fogo, demonstrando que a
incidência de queimadas está associada às condições climáticas com impacto negativo na saúde humana
e do ambiente.
Deste modo, a Geografia particularmente a geografia da saúde permite estabelecer essa relação do
fenômeno estudado com o meio em que está inserido. Nesse sentido, a utilização das geotecnologias para
a obtenção de imagens de satélite por meio de sensoriamento remoto e a análise da distribuição espacial
80
Estrab
ão (3) 2022
de focos na cidade de Campo Grande, possibilitou a análise dos locais de incidência e recorrência dos
focos de calor em conjunto com aspectos climáticos, sociais, culturais, dentre outros.
Tabela 1:Focos de calor e precipitação em Campo Grande
Table 1. Focos de calor e precipitação em Campo Grande
Ano Quantidade de focos de
calor na área urbana
Quantidade de focos de
calor na área rural
Total de focos de
calor no município
Precipitação
anual (mm)
2014 63 focos 295 focos 358 focos 1.523,8 mm
2015 81 focos 316 focos 397 focos 1.522 mm
2016 104 focos 336 focos 440 focos 1.590,4 mm
2017 139 focos 518 focos 657 focos 1.694,2 mm
2018 65 focos 218 focos 283 focos 1.145,8 mm
2019 205 focos 708 focos 913 focos 1.201,4 mm
2020 215 focos 1.332 focos 1.547 focos 1.079 mm
Total 872 focso 3.723 focos 4.595 focos 9.756,60 mm
Fonte:Atualizado pela autora, a partir de informações do INPE, 2014-2020;CEMTEC/SEMAGRO, 2014; 2015; 2016; 2017; 2018;
2019; 2020
De acordo com a tabela 1 é possível observar que no período (2014-2020) os anos de 2020, 2019 e 2017
representam maior incidência de focos no município, totalizando 3.117 focos, associado a precipitação
anual nota-se que o ano de maior incidência de focos de calor apresentou redução nos índices de
precipitação totalizando 1.079 mm. Assim, é notável a relação entre a variável climática, precipitação
e os focos de calor à medida que maior precipitação menor número de focos de calor. Com relação
a área urbana do município o período com maior número de focos de calor ocorreu entre 2017, 2019 e
2020 sendo em 2017 um total de 139 focos, 2019 com 205 focos e 2020 com 215 focos de calor, nota-se
que a precipitação nesse período totalizou 3.974,6 mm. Entretanto, é necessário avaliar o quantitativo
mensal, conforme tabela 2.
Table 2. Chuva (mm) em Campo Grande
ANOS
MESES
Jan
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Total
2014
160.40
155.00
49.40
183.00
54.20
119.20
17.20
65.80
19.00
225.60
364.20
1.523,8
2015
254.80
72.60
100.00
135.60
40.40
87.20
8.60
225.40
95.60
150.00
190.80
1.522
2016
382.60
190.00
70.8
206.80
48.80
5.40
65.60
37.00
91.40
116.80
190.00
1.590,4
2017
220.00
226.60
157.00
104.60
45.80
0.20
38.20
45.00
228.60
315.80
225.40
1.694,2
2018
138.40
97.40
89.6
37.40
11.00
0.00
112.20
89.40
167.40
148.20
55.00
1.145,8
2019
55.60
145.60
104.40
76.40
20.60
46.40
2.00
16.00
30.80
149.60
282.20
1.201
2020
164.80
80.20
80.20
90.20
41.20
4.00
35.60
8.40
150.40
100.40
96.40
1.079
Total
1376,6
967,4
651,4
834
262
262,4
279,4
487
783,2
1206,4
1404
9.756,60
Fonte:CEMTEC/SEMAGRO 20114-2020
Em relação a tabela 2 nota-se que os meses com maior quantitativo de chuva no ano de 2014 foram
novembro (225.60mm), dezembro (364.20mm) e maio (183.00mm) juntos totalizam 772.8 mm de chuva.
Oliveira and Anunciação
81
No ano de 2015 os meses de janeiro (254.80mm), setembro (225.40mm) e dezembro (190.80mm)
totalizando 671 mm de chuva. No ano de 2016 os meses com maior quantitativo de chuva foram janeiro
(382.60mm) maio (206.80mm) e março (190.00) totalizando 779,4 mm de chuva. Em 2017 os meses são
respectivamente novembro (315.80mm) outubro (228.60mm) e dezembro (225.40mm) totalizando 769.8
mm de chuva. No ano de 2018 os meses foram fevereiro (199.80mm) outubro (167.40mm) e novembro
(148.20mm) totalizando 515.4 mm de chuva. Em 2019 os meses foram dezembro (282.20mm) fevereiro
(271.80mm) e novembro (149.60mm) totalizando 703.6 mm de chuva. E em relação a 2020 os meses
com maior quantitativo de chuva foram fevereiro (227.20mm) janeiro (164.80mm) e outubro (150.40mm)
totalizando 542.4 mm de chuva. Observa-se que os meses com maior indice pluviométrico no período
analisado correspondem aos meses de dezembro (1404 mm), janeiro (1376.6 mm) e fevereiro (1242.8
mm) verão, totalizando 4.023,4 mm de chuva. Destaca-se ocorrências nas variações do quantitativo de
volume ao longo dos anos e que mostra uma relação indireta entre quantitativo de queimadas e índices
de chuva. Dessa forma, é possível observar nas figuras 2-8 a distribuição espacial dos focos de calor na
área urbana de Campo Grande.
É possível observar nas figuras 2 a 5 a distribuição espacial dos focos de calor em Campo Grande,
sendo que as regiões urbanas Anhanduizinho, Bandeira, Imbirussu e Segredo apresenta maior incidência
de focos, totalizando respectivamente 69, 61, 80 e 76 focos no período de 2014-2017, comparando com
os dados de precipitação observa-se que o período de 2014-2017 apresentou-se chuvoso, totalizando
6.325,6mm, assim não é possível afirmar que uma relação direta entre precipitação e focos de calor,
entretanto é possível afirmar que os episódios de focos de calor podem estar associados a ação antrópica.
Conforme figuras 6 a 8 nota-se que uma maior incidência de focos em comparação aos anos
anteriores de 2014-2017, sendo que nos anos de 2019-2020 foram detectados um total de 485 focos,
nota-se uma aumento dos focos a partir de 2019 em comparação aos anos anteriores, sendo que 2019
totalizou 205 focos, em comparação a 2018 que totalizou 65, e também um aumento de focos de 2019
para 2020, sendo que o ano de 2020 totalizou 215 focos. Assim, em relação a precipitação observa-se
que o período de 2018-2020 totalizou 3.529mm.
Com isso, cabe mencionar a taxa de urbanização de Campo Grande-MS que segundo Ibge (1970-2010)
apud Planurb (2020, p.106) foi de 93,51% em 1970, 97,22% em 1980, 98,59% em 2000 e 98,66% em
2010. Nota-se um leve aumento da urbanização em Campo Grande, mas que associado aos hábitos da
população, contribuem com o aumento da incidência de queimadas na cidade.
Na tabela 1 observa-se o aumento significativo de focos de calor do ano de 2019 para 2020, de 913 para
1.547, sendo que na área urbana de 215 em 2019 foi para 220 focos em 2020, desencadeando atenção
com relação aos impactos na saúde humana por meio do agravo de doenças respiratórias. Nesse sentido,
observa-se na tabela 3, os registros de internações por doenças do aparelho respiratório.
Conforme tabela 3, observa-se que as doenças respiratórias com mais notificações no município foram:
Pneumonia (17.624 notificações); Doenças crônicas das amígdalas e das adenóides (1.599 casos); Gripe
(1.446); Bronquite enfisema e outras doenças pulmonares obstrutiva crônica (1.324); outras doenças do
aparelho respiratório com total de (6.509 casos). Além disso, é importante destacar que o ano com maior
ocorrência de doenças respiratórias foi 2016, totalizando 5.661 internações em comparação com o total
de 440 focos de calor observados em 2016. Em vista disso, é possível observar na tabela 3 as internações
por ano/mês de processamento segundo Lista Morb CID-10 do capítulo CID-10 X Doenças respiratórias
em Campo Grande no ano de 2016, pois esse ano apresentou maior quantitativo de internações em
comparação aos demais anos dentro do período analisado.
82
Estrab
ão (3) 2022
Figure 2. Focos de calor por região urbana em 2014
83
Estrabão (3) 2022
Figure 3. Focos de calor por região urbana em 2015
Figure 4. Focos de calor por região urbana em 2016
84
Estrab
ão (3) 2022
Figure 5. Focos de calor por região urbana em 2017
Figure 6. Focos de calor por região urbana em 2018
85
Figure 7. Focos de calor por região urbana em 2019
Figure 8. Focos de calor por região urbana em 2020
Oliveira and Anunciação
86
Table 3. Doenças do aparelho respiratório por local de internação Campo Grande-MS
ANO
2014
-
6
16
8
2.869
128
11
82
357
15
142
Lista de Morbidade CID-10
Faringite aguda e Amigdalite aguda
Laringite e Traqueíte aguda
Outras infecções agudas das vias aéreas Sup
Influenza [gripe]
Pneumonia
Bronquite aguda e bronquiolite aguda
Sinusite crônica
Outras doenças do nariz e dos seios paranasais
Doenças crônicas das amígdalas e das adenóides
Outras doenças do trato respiratório superior
Bronquite enfisema e outras doenças pulmonares
obstrutiva
crônica
Asma
Bronquiectasia
Pneumoconiose
Outras doenças do aparelho respiratório
Total
Fonte: Atualizado pela autora a partir de dados do DATASUS, 2014
-2020.
2015
4
2
12
35
2.574
146
13
127
354
21
156
2016
3
11
13
81
2.679
96
32
100
367
21
206
2017
2
13
23
84
2.479
132
26
85
250
55
207
2018
4
8
18
98
2.326
119
10
76
111
28
209
2019
11
20
17
95
2.695
190
13
52
137
24
212
2020
7
17
12
223
2.039
66
3
32
45
27
177
TOTAL
31
77
111
626
17.661
877
108
554
1.621
191
1.309
28
1
7
963
4.635
43
1
4
1.035
4.527
34
7
5
1.115
4.770
50
5
8
943
4.362
45
33
4
882
3.971
63
26
3
761
4.319
39
1
1
871
3.560
302
74
32
6.570
30.144
87 Estrabão (3) 2022
Table 4. Doenças do Aparelho respiratório por mês de processamento no ano de 2016
Lista de Morbidade CID-10 MÊS DE PROCESSAMENTO
Com base na tabela 4 é possível observar que o mês com maior número de internações foi julho
(520) internações e o mês com menor número foi fevereiro (251) internações. Em relação a doença que
apresentou maior quantitativo de internações no ano de 2016, Pneumonia totalizou 2.679 internações
de janeiro a dezembro deste ano e Faringite aguda e amigdalite aguda apresentaram menor número de
internações totalizando 3 internações. Em comparação ao número de focos de calor do ano de 2016,
conforme tabela 1, nota-se que os focos no município de Campo Grande totalizaram 440 com precipitação
anual de 1.564,6 mm.
Assim, é possível observar que não há uma relação direta entre os focos de calor e as doenças
respiratórias, tendo em vista que o ano de 2020 apresentou maior número de focos de calor, porém menor
quantitativo de internação por problemas respiratórios do período analisado. Mas, nota-se conforme
tabela 1 que uma relação direta entre focos de calor e precipitação, sendo que o ano de 2020 apresentou
o maior número de focos e o baixo índice de precipitação.
Faringite aguda e Amigdalite
Jan
-
Fev
-
Mar
1
Abr
-
Mai
-
Jun
-
Jul
-
Ago
-
Set
1
Out
1
Nov
-
Dez
-
TOTAL
3
aguda
Laringite e Traqueíte aguda
1
1
1
-
-
2
2
-
-
4
-
-
11
Outras infecções agudas das
1
1
-
-
1
2
1
1
3
2
1
-
13
vias aéreas Sup
Influenza [gripe]
2
5
5
6
4
10
4
10
16
8
3
8
81
Pneumonia
161
122
176
185
272
252
338
255
244
265
199
210
2.679
Bronquite aguda e
4
4
3
10
9
9
12
15
7
16
4
3
96
bronquiolite aguda
Sinusite crônica
-
2
5
5
1
2
1
2
9
2
3
-
32
Outras doenças do nariz e
11
8
10
6
8
12
15
9
3
5
7
6
100
dos seios paranasais
Doenças crônicas das
14
28
38
34
33
32
34
39
42
19
27
27
367
amígdalas e das adenóides
Outras doenças do trato
2
-
2
1
2
-
-
4
4
-
3
3
21
respiratório superior
Bronquite enfisema e outras
13
11
14
10
8
13
16
20
23
26
20
32
206
doenças pulmonares
obstrutiva crônica
Asma
-
-
-
4
3
2
4
5
6
5
3
2
34
Bronquiectasia
-
-
1
-
-
-
3
-
-
2
1
-
7
Pneumoconiose
-
-
-
2
-
-
1
-
1
-
1
-
5
Outras doenças do aparelho
79
69
93
84
93
100
89
81
126
102
89
110
1.115
respiratório
Total
288
251
349
347
434
436
520
441
485
457
361
401
4.770
Fonte: DATASUS, 2014-2020.
Oliveira and Anunciação
88
Na cidade de Campo Grande-MS segundo a Planurb; Campo Grande (2019, p.7) são realizadas
ações de educação ambiental, tais como a “Campanha diga não às Queimadas Urbanas”. No entanto,
é um fenômeno recorrente, o que pode estar associado a ineficácia na internalização de informações
e sensibilização da sociedade. Nesse sentido, é importante avançar em pesquisas científicas sobre as
queimadas e a saúde em Campo Grande.
Considerações Finais
A partir das informações de focos de calor, precipitação e doenças do sistema respiratório é notável
a importância das pesquisas científicas em torno das questões ambientais, principalmente dos impactos
negativos oriundos da ação humana que desencadeiam degradação ambiental. As queimadas e incêndios
são responsáveis pela emissão de material particulado que influenciam diretamente tanto a saúde da
população que moram próximas às áreas queimadas quanto da população de outras regiões. Outro fator
observado está relacionado com a questão do desmatamento que associado às queimadas interfere na
saúde humana como também no ecossistema e no clima.
Deste modo, é necessário destacar que com base nas informações obtidas não foi possível observar
uma relação direta entre focos de calor e internações por doenças respiratórias no período analisado,
tendo em vista que o ano de 2020 representou maior número de focos de calor, porém menor número
de internações, fator que possa estar relacionado a atenção dedicada ao panorama desencadeado pela
pandemia da COVID19.
Porém, notou-se uma relação entre os focos de calor e os dados pluviométrico, haja visto que o ano
de 2020 apresentou reduzido índice de precipitação com um total de 1.181,4mm no período analisado,
ao passo que o registro de precipitação de 1.201,4mm no ano de 2019 coincidiu com a alta incidência
de focos de calor, totalizando 913 focos. As queimadas podem estar associadas a urbanização no caso
estudado, devido aos hábitos da população que realizam a queima de matéria orgânica e associado a
variabilidade climática e as condições de tempo meteorológico na sazonalidade da ocorrência dos fatos,
potencializa as circunstâncias de acometimento das doenças respiratórias.
Contudo, espera-se que a partir do desenvolvimento inicial desta pesquisa, ocorra o desencadeamento
de análises e reflexões com maior aprofundamento temático, visando contribuir com a discussão sobre
as queimadas e seus impactos na saúde humana e no ambiente bem como o desenvolvimento de ações de
educação ambiental críticas na perspectiva de sensibilizar e formar embaixadores ambientais na cidade
de Campo Grande-MS.
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