
147 Estrabão (3) 2022
INTRODUÇÃO
O presente trabalho teve por objetivo comparar qual a melhor opção entre as obras na Avenida
Comendador Franco, amplamente conhecida como a Avenida das Torres, localizada na cidade de Curitiba
(PR), hoje referenciada como o corredor central (e principal) que liga a capital à cidade de São José dos
Pinhais e o Aeroporto Internacional Afonso Pena (localizado nesse município).
Considera-se que a obra, objeto de estudo foi “repaginada”, tirando-se as suas Torres e sendo ampliada
em número de vias, especialmente preparada para a Copa do Mundo de 2014, quando o Brasil foi o país
sede e a cidade de Curitiba uma de suas praças.
É nesse contexto que entra a discussão quanto à aplicação de recursos públicos para a construção
da ponte estaiada versus a construção de trincheiras ao longo da avenida e não quanto à sua projeção
apenas visual, mas o seu conceito de funcionalidade e mobilidade quanto às áreas sob a influência dessa
importante via para a população, principalmente, de baixa renda.
Basicamente o conflito aqui abordado diz respeito ao viés da melhor fluidez no trânsito, visando obras
com menor custo para a cidade, sejam essas obras estéticas ou não.
Uma novidade para a cidade de Curitiba, a ponte estaiada serve tanto como cartão postal bem como
ligação entre os bairros Jardim das Américas e Guabirotuba.
A Avenida Comendador Franco é uma importante ligação entre Curitiba e a cidade de São José dos
Pinhais onde, nos horários “de pico”, que corresponde das 07:00 às 09:00 e das 17:00 às 20:00 horas,
basicamente de segunda a sexta-feira, o grande número de carros entre as cidades congestiona o trânsito
nos dois sentidos.
Outro complicador do trânsito na via são os sinaleiros, muitas vezes não sincronizados, e que com a
soma do grande fluxo de veículos fazem congestionar o trânsito em toda a via (tema esse que, espera-se,
venha a ser discutido em outro estudo).
Segundo dados da Rede Observatório das Metrópoles (ROM, 2018), a crise da mobilidade urbana está
presente no cotidiano das grandes cidades brasileiras de forma cada vez mais contraditória: de um lado,
o crescimento quase que exponencial da frota de veículos; de outro, um transporte público caro e de má
qualidade, cujo reflexo recai sobre a redução progressiva da mobilidade das classes menos favorecidas.
E afirma ainda que o aumento da frota de veículos automotores no país na última década (138,6%) foi
mais dez vezes maior que o aumento da população brasileira (12,2%). Esse aumento advém do modelo
rodoviarista que ancora a política de mobilidade no país, e pode ser ilustrado pela evolução da sua taxa
de motorização (número de automóveis a cada 100 habitantes), que passou de 14,2 em 2001 para 22,7
em 2011 e para 29,7 em 2016.
Segundo Moreira and Dourado (2012), a taxa de motorização em Curitiba, em 2012, era de 757,2
veículos por 1000 habitantes, se comparado a outros municípios com maior população, foi a que teve
o maior aumento dessa proporção.
Crestani, Gabardo, and Leitão (2018) afirmam que as trincheiras parecem soluções diretas para esse
tipo de situação. Entretanto, é preciso apartar-se da posição como motoristas para colocar as coisas
em maior perspectiva. Se pensarmos na qualidade dos espaços urbanos que “restam” no entorno de
trincheiras lembramos que são, em geral, contextos hostis, não resolvidos na escala do desenho urbano
específico que impacta diariamente o cidadão.
As trincheiras, quando não planejadas e articuladas desde uma perspectiva macro de conectividade na
cidade, passando pela escala média dos bairros e regionais, chegando à menor escala da vida cotidiana
do cidadão, não passam de respostas a efeitos do congestionamento.